Não é por falta de repertório que se recorre ao lugar-comum, mas porque ele quase sempre é infalível, principalmente quando se repete tanto: o desabamento do sobrado na Rua Sete está no rol das tragédias anunciadas, mesmo que numa escala menor entre as tragédias possíveis.
Pois quis felizmente o destino que a casa abandonada ruísse ao amanhecer desta quarta-feira (15), e a avalanche de escombros não fizesse vítimas entre os frequentadores dos bares próximos, que costumam ocupar mesas bem próximas ao terreno.
O pecado da omissão do poder público na fiscalização dos imóveis abandonados do Centro de Vitória não tem perdão. Relegar as responsabilidades de manutenção e cuidados com a segurança aos proprietários porque assim dita a lei é se eximir do seu próprio papel de organizador da sociedade. Lava-se demais as mãos, quando se espera atitude.
Até porque há também prédios públicos deteriorados, colocando edificações vizinhas e transeuntes em risco cotidiano. Sem falar na própria desfiguração das fachadas, do emaranhado de fios nas ruas compondo o cenário da ausência de zelo e da feiúra. O Centro tem história demais para continuar sendo tão maltratado.
Faz falta uma política pública de ocupação capaz de revitalizar a região de forma mais perene do que espasmódica. A região central, que passou por um redescobrimento a partir do fim da primeira década, viu essa agitação se arrefecer com a crise econômica dos últimos anos. O governo estadual anunciou no ano passado uma movimentação de retorno da administração ao Centro, com a ocupação de imóveis públicos e comerciais ociosos, o que pode estimular um contrafluxo importante para a região. Ajuda muito, mas sem sistematização com outras medidas vigorosas não resolve o problema do abandono. Um choque de gestão é necessário. Não se pode descuidar. O incêndio numa loja de couros na Vila Rubim, em setembro passado, também na região central de Vitória, foi reflexo dessa omissão generalizada.
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São, segundo a Associação de Moradores do Centro de Vitória (Amacentro), 109 imóveis em estado de abandono no bairro. São, como se constata, mais de cem prédios prontos para se tornarem mais um lugar-comum do descaso, se nada for feito. Ninguém aguenta mais esse clichê.
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