A decisão a ser tomada pelos gestores públicos das áreas mais afetadas pelas inundações neste janeiro é salomônica, mas não pode mais ser adiada: a retirada definitiva das casas em áreas de risco.
Não há reconstrução duradoura sem o devido reordenamento urbano, que será impopular entre aqueles que habitam as regiões mais próximas dos rios na mesma proporção em que será capaz de reduzir substancialmente os danos causados pelas chuvas.
É importante, portanto, que esteja mesmo em destaque na agenda da reconstrução, como ressaltou o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto. “Nós não podemos controlar a natureza, mas devemos fazer o máximo para que, em eventos climáticos adversos, a gente preserve a vida humana. E uma forma de fazer isso é retirando as famílias dessas regiões”. Não é tarefa fácil, com impactos sociais que precisam ser levados em conta.
Mas os eventos climáticos das últimas semanas foram aterrorizantes demais para nenhuma medida significativa ser tomada. A população de cidades como Cachoeiro, Iconha, Alfredo Chaves, Castelo e Iúna sentiu na pele a força das águas, tentando se adequar aos espaços disponíveis dentro da geografia urbana. Da forma como estão organizadas, essas cidades estarão sempre vulneráveis às inundações.
Uma nova estruturação ao longo dos leitos vai promover um equilíbrio, principalmente se associados a planos de desassoreamento e reflorestamento.
São, até o momento, mais de 10 mil pessoas fora de casa, entre desabrigados e desalojados, no Espírito Santo. É um revés da própria ocupação desordenada. Pela lógica, são números que tendem a se reduzir com a retirada de construções de áreas de risco e do leito complementar dos rios, que deveria estar livre para os períodos de cheias.
Não pode faltar coragem para esse reordenamento, é algo que precisa ser pactuado entre autoridades municipais, estadual e federal e a própria sociedade.
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Entre 1996 e 2016, 2.572 pessoas morreram devido a deslizamentos de terra, tempestades e inundações no país, de acordo com levantamento feito pelo jornal O Globo no ano passado, com dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Sem medidas preventivas mais ousadas, essa contabilidade continuará crescente.
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