A Polícia Federal agiu rápido ao recuperar geladeiras, fogões, colchões e lâmpadas, que seriam destinados às vítimas das enchentes em cidades do Sul do Espírito Santo e haviam sido furtados de um galpão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em Cachoeiro de Itapemirim. Cabe aqui valorizar o trabalho eficiente da PF, que trouxe solução para os afetados pelo crime.
Mas a recuperação de todos esses itens não pode dar fim às investigações da chamada Operação Black Friday. Vale ressaltar que nem todos os produtos desviados foram recuperados de imediato. Ao todo, entre os donativos levados do galpão estavam: 49 geladeiras, 43 fogões, 8 cestas básicas, 153 itens de higiene pessoal, além de outros materiais. Ainda há a possibilidade de que pessoas que adquiriram as mercadorias, sem saber ou não que eram destinadas a doação, façam a devolução de forma voluntária e deem as devidas explicações sobre a compra irregular em depoimento na delegacia da Polícia Federal, em Cachoeiro de Itapemirim.
E o principal: é preciso apurar de forma clara como agiu o grupo que cometeu os desvios. Conforme investigado pela PF, as subtrações teriam ocorrido nos dias 2, 8 e 16 de junho. Há imagens de câmera que flagram o "entra e sai" de carros na Conab levando os materiais. Ainda segundo a polícia, o principal articulador do grupo seria um empregado terceirizado da própria companhia, que teria contado com a ajuda de outras três pessoas.
Ao g1 ES, o delegado da Polícia Federal Wender Moreira disse que o suspeito tentou justificar a ação alegando que estava passando por dificuldade financeira. Por isso, teria vendido os produtos desviados a vizinhos e conhecidos, por preço muito abaixo do mercado e sem nota fiscal. Parte da mercadoria também foi encontrada nas casas dos próprios investigados. Em que pese a justificativa dada, se ficar comprovado o crime, todos devem ser punidos de forma exemplar.
Não é possível normalizar um crime que desrespeita e afronta aqueles que lutam para começar a reconstruir a vida depois de uma tragédia que causou 20 mortes, sendo 18 somente em Mimoso do Sul, município mais atingido pela catástrofe. O drama de famílias que perderam tudo com as chuvas do fim de março foi contado em A Gazeta, bem como daqueles que, depois de muito esforço, conseguiram recuperar o comércio e outros negócios de onde garantem o próprio sustento. Por isso, é natural que o desvio das doações tenha revoltado os moradores das cidades afetadas pelas chuvas.
Tal qual também ocorreu com doações enviadas para socorrer os atingidos pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Por lá, há a suspeita de participação de agentes públicos, inclusive pré-candidatos nas eleições deste ano, que teriam realizado os desvios para beneficiar possíveis eleitores. Afronta ainda maior ao sofrimento do povo gaúcho.
Em ambos os casos, a punição aos envolvidos servirá como uma resposta para todos aqueles que se uniram em uma corrente de solidariedade para socorrer as vítimas das enchentes. Famílias, amigos, instituições religiosas, escolas, entes públicos e privados, entre outros, mobilizaram-se para enviar alimentos, água, roupas, eletrodomésticos, entre outros itens, para os afetados pelas enchentes. Além de todos os voluntários que se dispuseram a limpar a cidade, ajudando a retirar lama, lixo e entulhos espalhados pela enxurrada.
Como dito aqui neste mesmo espaço, em março, a tragédia poderia ser ainda maior sem essas mobilizações. Mesmo não sendo capazes de resolver todos os problemas causados pelas enchentes, as doações são sempre um belo exemplo de respeito ao próximo. Ajuda que chega para renovar a esperança de que é possível recomeçar. É inaceitável que alguém tente tirar essa oportunidade de quem tanto sofreu – e ainda vem sofrendo.
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