A reação de criminosos à morte de um traficante do bairro Bonfim, em Vitória, produziu uma das imagens mais emblemáticas da guerra urbana na Capital até agora, registrada pelo repórter fotográfico de A Gazeta Carlos Alberto Silva: o Santuário-Basílica de Santo Antônio, localizado no bairro homônimo, compondo o cenário com a carcaça de um ônibus incendiado.
O templo religioso, um dos nossos principais pontos turísticos, foi testemunha ocular da audácia de criminosos que continuam tentando tumultuar e espalhar o terror pela cidade quando são contrariados nas ações policiais que terminam em baixas em suas filas. A lembrança da sexta-feira de agosto na qual motoristas ficaram na mira de tiros na Beira-Mar ainda é vívida e contribui para a consternação coletiva: vamos continuar colecionando esses episódios de completa insubordinação social?
Enquanto este editorial estava sendo escrito, no fim da tarde desta terça-feira (11), chegou a notícia de que um quarto ônibus acabava de ser vandalizado nos arredores do Parque Moscoso. Logo depois, um quinto foi incendiado na Enseada do Suá. Um sexto veículo foi registrado logo em seguida.
Na contagem do dia, o primeiro ataque a coletivo foi o mais fora da curva: os bandidos retiraram motorista e passageiros e metralharam o veículo, no bairro Consolação. Não houve fogo. A partir de então, deu-se início à piromania. O segundo ônibus foi incendiado no mesmo bairro, quase simultaneamente com o de Santo Antônio, o terceiro.
Em meio a esses ataques, moradores dos bairros, inclusive idosos e crianças, foram as principais vítimas desses bandidos. Entre o medo de sofrer algum tipo de violência física e as marcas emocionais do medo, ninguém saiu ileso.
Fotojornalismo: tensão em Vitória e população no fogo cruzado
A imprensa, que se mobiliza na cobertura dessas ações criminosas, também foi alvo no fim da manhã desta terça-feira. Um carro de reportagem da TV Tribuna, afiliada do SBT no Espírito Santo, também foi incendiado, entre o Bairro da Penha e o Bonfim. O cinegrafista foi ameaçado e agredido pelos bandidos antes de atearem fogo ao veículo: eles chegaram a apontar uma arma para a cabeça do profissional. As entidades de imprensa repudiaram a violência desmedida e cobraram providências das autoridades.
A orquestração desses ataques é o que está deixando a sociedade mais desconcertada e indignada com esse dia de terror. Por que as forças policiais não são capazes de conter essa sequência criminosa, que coloca a população sob o terror dos bandidos? A Guarda Municipal conseguiu efetuar a apreensão de dois menores, envolvidos no incêndio de um dos ônibus.
Fato é que os serviços de inteligência não conseguiram mapear as possíveis reações à morte de Jonathan Candida Cardoso, considerado o segurança de Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, liderança máxima do tráfico no Bairro da Penha. A mobilização da facção para tentar sitiar a cidade de Vitória adotou a tática de dispersão das forças policiais, com a pulverização dos ataques. Um jogo de gato e rato covarde, mas que até o momento favoreceu a estratégia dos bandidos.
A Capital e o Estado não podem continuar à mercê do tráfico, sempre que as lideranças das facções tiverem contrariedades na atividade criminosa. Lugar de criminoso é na prisão, sem exercer qualquer poder sobre a sociedade. Vitória não é uma praça de guerra, mas nesta terça-feira ficou bem perto disso. O restabelecimento da lei e da ordem é o que vai balizar a autoridade daqueles que zelam pela segurança pública.
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