China, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Argentina. E não são somente esses países, o planeta entra em 2021 festejando a vacina. O site Our World in Data, da Universidade de Oxford, apontava que, até a última segunda-feira (04), 12,6 milhões de pessoas já tinham sido vacinadas contra a Covid-19 no mundo. Nessa multidão global, há obviamente brasileiros. Mas não os que vivem no Brasil. Por aqui, todos permanecem reféns da inação do governo federal.
Com a autorização do governador Renato Casagrande dada à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para a retomada da negociação com a indústria farmacêutica para aquisição de doses de vacina contra a Covid-19, o Espírito Santo se mobiliza para abandonar esse compasso de espera que tem causado tanta agonia. Não é um movimento repentino, sem motivo. É uma reação quase que natural à inoperância da União.
A Sesa já estava, inclusive, em negociações avançadas com a Pfizer no ano passado, mas interrompeu o processo quando o Ministério da Saúde anunciou o Plano Nacional de Imunização (PNI), no início de dezembro, impondo-se então na dianteira dos Estados e municípios nesse processo. E é isso que se espera: que o Planalto assuma o papel da coordenação nacional que cabe a ele.
A sinalização de que o governo federal, enfim, se movimentaria nacionalmente para justificar a própria razão de sua existência não durou muito tempo. Naquela ocasião, foi divulgada a assinatura de um memorando de entendimento com a Pfizer, do qual não há notícia de avanço desde então. Mas, nesta terça-feira (05), notícias de uma movimentação federativa causaram algumas reações que ajudam a desenhar o status da vacina no Brasil.
Em uma entrevista à rádio CBN do presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, ele afirmou que a Pfizer teria procurado o Conass diante das dificuldades para entrar em um acordo com o governo federal. Desmentindo essa afirmação, a Pfizer Brasil afirmou que mantém o diálogo aberto com o governo federal e negou a existência de negociações paralelas com Estados brasileiros.
O esclarecimento contradiz as próprias intempéries noticiadas desde que a Pfizer iniciou a vacinação no Reino Unido, em 8 de dezembro, e o governo federal se viu pressionado a mostrar trabalho. Sem a formalização de compra e sem autorização de uso emergencial pela Anvisa, anúncios infundados por parte do Ministério da Saúde se sucederam, como a chegada de 500 mil doses do imunizante da Pfizer em janeiro. O desconforto da farmacêutica com as negociações ficaram evidentes.
É estranho, portanto, que se posicione publicamente contra a conversa com os Estados. Possivelmente, a Pfizer não estará mais no horizonte do Espírito Santo, em função de algum tipo de compromisso nacional da empresa. Há outras vacinas possíveis, e é importante que o governo estadual destrave essa possibilidade de compra. Casagrande anunciou que R$ 200 milhões estão reservados para a compra.
Além de já ter se preparado e comprado seis milhões de seringas (enquanto o Ministério da Saúde segue patinando na aquisição de insumos), a Sesa tem se posicionado com firmeza na defesa ampla e irrestrita da imunização. E mostrado que a definição de estratégias, como a aplicação de uma ou duas doses na população, não está sendo deixada para a última hora.
Este vídeo pode te interessar
Nesta terça-feira, cinco governadores se reuniram por videoconferência com o secretário de vigilância do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, para cobrar um cronograma. Mais uma vez sem resposta. A inoperância se perpetua de uma forma inacreditável, é como se o Brasil vivesse uma realidade paralela, desconectado do mundo. Com os pés no chão, o governo estadual tomou decisão acertada. Mais que um gesto de impaciência com a ineficiência nacional, uma atitude de quem quer que seu povo sobreviva a essa tragédia.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.