Nas ruas, não são incomuns histórias como a de Ângela Aparecida Ferreira, de 52 anos. Pessoas que no encadeamento de eventos trágicos da vida acabam sendo levadas ao extremo de necessitar fazer de um canto de calçada ou de praça a sua morada. Morar embaixo da ponte, que é a expressão popular mais simbólica da vida nas ruas, foi o ato de desespero dela.
A sequência de problemas teve início com um acidente de moto gravíssimo há três anos, cujas sequelas ainda exigem acompanhamento médico. Recentemente, Ângela recebeu o diagnóstico de cadeirante permanente. Impossibilitada de trabalhar como salgadeira, seu ofício antes do acidente, passou a depender do filho de 25 anos. Na última semana, com o filho desempregado e o despejo do imóvel em que viviam de aluguel, os dois se abrigaram em um viaduto da BR 262, em Cariacica, para onde levaram tudo o que tinham, de móveis a pertences pessoais.
Os poucos dias ocupando um ambiente inóspito e barulhento foram suficientes para a dura realidade se impor, com mãe e filho sendo vítimas de roubo duas vezes. Diferentemente de grande parte das pessoas em situação de rua, eles levaram para lá quase tudo o que possuíam, transferindo a casa para o local. Razão pela qual Ângela não aceitou ir para um abrigo da prefeitura.
Cada detalhe das dificuldades que a empurraram para a rua é único e universal ao mesmo tempo. A crise decorrente da pandemia tem sido brutal para os mais pobres, com um visível crescimento da população de rua em toda a Grande Vitória, mas é uma realidade que desde sempre é um retrato dos momentos de piora das condições sociais no país. Essas pessoas expostas a vulnerabilidades são também vítimas de violência, porém geralmente carregam o estigma de serem os agentes dessa violência, sobretudo quando se tornam usuários de drogas.
As ações do poder público devem sempre priorizar o bem-estar comum, com o cuidado de não focá-las em medidas higienistas, que apenas tirem essas pessoas da vista. O encaminhamento para abrigos é uma medida paliativa, mas importante como recurso para iniciar o processo de retirada das ruas. A assistência social dos municípios têm um papel fundamental na contagem e no mapeamento das regiões mais ocupadas, para que consiga agir de forma mais efetiva, com medidas que deem mais dignidade a essas pessoas.
Enquanto o desemprego continuar assolando a população e não houver oportunidades mais bem distribuídas no país, vamos continuar vendo casos como o de Ângela e seu filho. Felizmente, a Prefeitura de Cariacica disponibilizou o aluguel social para garantir emergencialmente a eles uma moradia, nesta quinta-feira (20). Mas não diminui a gravidade dessa crise humanitária brasileira, com a qual cada cidadão se depara, diariamente, assim que passa pela porta de sua casa.
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