Se ter um filho ou um marido condenado e preso por si só já coloca tantas mulheres em uma situação de vulnerabilidade, imagine quando esse familiar que se encontra encarcerado faz dívidas que precisam ser pagas por elas. Um pagamento que em muitos casos têm um preço alto demais, que é torná-las também criminosas.
A colunista Vilmara Fernandes mostrou como familiares de presos que são consumidores de drogas acabam sendo tragados para esse sistema de comércio ilegal imposto por presidiários, assumindo suas dívidas. Há um caso, de uma senhora do interior do Espírito Santo, no qual o valor devido chegou a R$ 23 mil.
As drogas que circulam internamente determinam a hieraquia dos condenados. Acabam sendo a moeda mais valiosa, que permite que presos, principalmente de facções, exerçam domínio sobre os outros. É essa a dinâmica de poder intramuros. A situação se torna um problema social quando envolve quem está aqui fora, pessoas que nem têm envolvimento com o crime e acabam se colocando em risco.
Afinal, não é tarefa simples burlar os sistemas de seguranças dos presídios capixabas. Além das revistas manuais, os locais são equipados com scanners corporais e portas com detector de metais para identificar quem está tentando levar drogas para os presos. As imagens flagram pessoas que usam o próprio corpo para fazer o transporte, nas partes íntimas. Além de outros subterfúgios: até unhas de gel passaram a ser proibidas, pois já foram encontradas com cocaína em revistas.
A complexidade da situação é proporcional ao seu drama: uma mãe coagida a entrar com droga teme denunciar a situação e colocar a vida de seu filho em risco. Já os criminosos que fazem a cobrança não têm nada a perder quando usam a violência para obrigar essas mulheres a levarem os entorpercentes.
Não é só dessa forma que as drogas entram nos presídios, não dá para fechar os olhos para as denúncias de facilitações. O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) investiga possíveis casos no Estado, com o apoio do setor de inteligência da Sejus. A organização carcerária, com a neutralização de presos que insistem em cometer crimes e incitar a violência mesmo atrás das grades, é o que pode reduzir essa agonia. Um problema que, como é notório, tem implicações também na criminalidade nas ruas.
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