Drones foram criados para a guerra. E o tráfico está se aproveitando disso

Uso dos aparelhos para monitorar a chegada da polícia ou de gangues rivais está mais comum em bairros dominados pelo tráfico, repetindo a estratégia bélica de monitoramento remoto. Felizmente o uso de drones pela polícia também é uma realidade

Publicado em 21/09/2022 às 01h00
Drone
Drones são cada vez mais comuns na paisagem urbana. Crédito: Shutterstock

O céu já foi o limite: o uso lúdico e recreativo dos drones se popularizou nos últimos dez anos, e há um imenso potencial de negócios com essas "maquininhas" voadoras controladas a distância. Não se pode esquecer, contudo, que essa tecnologia que permite imagens aéreas e o monitoramento de áreas remotas teve origem militar. Nasceu para a guerra, com emprego em espionagem e missões arriscadas, de elevado risco para humanos, aliando a precisão de alvos e a segurança dos soldados.

Com essas vantagens estratégicas, não é de se admirar que tenha caído nas graças das facções criminosas que atuam na Grande Vitória. Drones mais simples são investimentos relativamente baixos e de muita utilidade: servem como olheiros do tráfico, avisando possíveis incursões policiais ou de gangues rivais. Por isso, a adoção desses aparelhos deve crescer e se tornar um desafio para a segurança pública.

"É um olheiro, só que com autonomia maior. Tem câmera que pode ir até 5 quilômetros, por exemplo, também pode sobrevoar mata. É o traficante na proteção e controle de seu próprio território usando essa tecnologia que dá a ele uma visão geral do bairro", explicou o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus. Recentemente, dois equipamentos foram apreendidos pela polícia na Serra e em Vitória.

A guerra do tráfico se aprimora com o acesso à tecnologia, o que vai demandar ainda mais os serviços de inteligência. Os bandidos tentam se antecipar com os recursos possíveis, para estarem sempre à frente das forças policiais. O comandante da PM, contudo, acredita que o uso de drones pode sair pela culatra, ao chamar a atenção da polícia e trazê-la para mais perto dos criminosos. Mas não se pode negar que o investimento nessa tecnologia é um upgrade na infraestrutura do crime.

Do outro lado da trincheira, os policiais também fazem uso desses equipamentos há algum tempo. Desde 2018,  a Polícia Militar tem 33 aparelhos em uso, com 145 pessoas cadastradas para operá-los, com previsão de mais 38 novos equipamentos neste ano.  Já a Polícia Civil anunciou em 2019 que também passaria a fazer uso dos drones.  Em novembro daquele ano, as duas polícias anunciaram os superdrones, equipados com câmera térmica, holofotes e um sistema de som para comandos de voz diretamente do rádio. 

Os drones são avanços tecnológicos inquestionáveis, e é imprescindível que integrem as estratégias de segurança pública. É inocência acreditar que há formas de impedir o acesso de criminosos a essa tecnologia já tão disseminada, mas a reação do Estado precisa ser no mínimo equivalente, com o bom uso da inteligência e do aparato tecnológico em seu poder. Nessa guerra, sai na frente quem tem mais informação disponível. Que não sejam os bandidos.

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