É possível se preparar melhor para conter ataques em escolas

As raízes do problema precisam ser investigadas, associadas a políticas públicas com foco na própria educação. A escola não pode ser demonizada, ela deve ser encarada como a solução

Publicado em 10/04/2023 às 01h00
Creche
Ataque em creche de Blumenau, em Santa Catarina. Crédito: ISHOOT/Folhapress

Quando "Tiros em Columbine", de Michael Moore, estreou nos cinemas há mais de 20 anos, o público brasileiro do documentário que retratou um dos ataques a escolas mais emblemáticos dos Estados Unidos sentiu um certo alívio. Como terremotos, nevascas e guerras, aquele era um drama distante da realidade do país. Em 2023, ninguém mais consegue se sentir tranquilo por aqui em relação a esse tipo específico de violência.

Após uma sequência de ataques a escolas, a qual o Espírito Santo foi tragicamente inserido com o episódio de Aracruz, em novembro, a morte de quatro crianças entre 4 e 7 anos na creche de Blumenau na semana passada deixou o país atônito. Fora dos parâmetros desse tipo de atentado em massa no ambiente escolar, o crime foi cometido por um homem de 25 anos, ao que tudo indica sem relação com a creche. Autoridades dizem se tratar de um caso isolado, mas não parece razoável simplesmente excluí-lo da esfera de influência dos ataques recentes no país.

Pesquisadores ouvidos em reportagem da BBC afirmam que,  em 2022 e 2023, o número de ataques em escolas brasileiras já supera o total registrado nos 20 anos anteriores. Fala-se em radicalização de jovens, em facilidade de acesso a grupos de ódio nas redes sociais, em cultura da violência.  Um cenário novo no país, que vai exigir uma atuação mais eficiente das forças policiais no âmbito da inteligência. Mas não só isso. As raízes do problema precisam ser investigadas, associadas a políticas públicas com foco na própria educação. A escola não pode ser demonizada, ela deve ser encarada como a solução.

Por se tratar de um fenômeno novo, é preciso que haja mais preparação no trato desses casos, com a criação de protocolos, inclusive na mídia. O caso desta semana provocou uma mobilização mais organizada dos veículos de imprensa, inclusive de A Gazeta, com novas rotas de abordagem na cobertura jornalística.  Nomes, fotos e vídeos dos acusados não são divulgados, assim como o modus operandi, para evitar o chamado "efeito contágio", a repetição desse tipo de crime por imitadores.  A experiência, sobretudo nos Estados Unidos, mostra que "celebrização" dos agressores pode ser um motivador de novos ataques.

Há 20 anos, o próprio documentário de Michael Moore pode ter contribuído para transformar os atiradores adolescentes de Columbine em celebridades póstumas. A reflexão sobre esse impacto em outros atentados deve ser feita, o Brasil infelizmente vai ter de aprender a lidar com crimes de ódio, aqueles em que  é humanamente impossível encontrar um mínimo sentido.

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