A pesca sempre foi uma das atividades mais tradicionais do Espírito Santo. É fonte de renda para inúmeras famílias e de receita para uma indústria em plena expansão no Estado. Não por acaso, a moqueca se consolidou como nosso prato típico – e "o resto é peixada", como convencionou o jornalista e escritor Cacau Monjardim.
Se o mar sempre esteve para peixe nos 410 quilômetros do litoral capixaba, pelo ar entrou em operação um voo que pode facilitar a exportação de pescados do Estado para o mercado internacional. Desde meados de agosto, o Aeroporto de Vitória possui mais uma rota internacional de cargas. O Airbus 330-220F, da colombiana Avianca Cargo, sai de Miami, na Flórida (EUA), passa por São Paulo e chega à capital capixaba. Daqui, leva a carga de peixes e outros produtos do agronegócio do Estado rumo a Bogotá, na Colômbia, antes de alcançar o destino final, em Madri, na Espanha.
Uma rota com potencial para abrir novos negócios para a indústria pesqueira capixaba. Porém, os exportadores do Estado ainda esbarram na burocracia do Ministério da Agricultura para fazer o comércio de pescados alçar voos mais altos rumo ao exterior. Como informou o colunista Abdo Filho, por falta de estrutura, a pasta federal demora cinco dias úteis, no Espírito Santo, para fazer a emissão do Certificado Sanitário Internacional (CSI), documento obrigatório para a movimentação desse tipo de carga. Tempo demais para produtos tão perecíveis quanto os peixes.
O absurdo dessa lentidão fica maior diante do fato de que o mesmíssimo documento é emitido em até 12 horas na Bahia, no Rio de Janeiro e em São Paulo. O Espírito Santo já começa sendo derrotado de goleada na competitividade em relação aos Estados próximos, alguns vizinhos. Perde-se tempo, dinheiro e qualidade do produto.
Nesses moldes, a operação fica inviabilizada, como salientou Simone Marconi, vice-presidente do Sindicato das Indústrias da Pesca do Estado do Espírito Santo (Sindipesca-ES). A tal ponto que, financeiramente, passa a ser melhor fazer a liberação dos pescados capixabas pelo Rio de Janeiro e por São Paulo e, consequentemente, exportar por lá. E o contrassenso aumenta. No fim das contas, quem está preferindo exportar pela nova rota internacional de Vitória são os fabricantes da Bahia, que conseguem emitir o CSI lá em apenas 12 horas. Depois, trazem a carga para ser enviada ao exterior pelo aeroporto da Capital capixaba, como relatou Marconi.
Essa limitação burocrática freia a decolagem das exportações de pescados do Estado. Informações do Agrostat, base de dados do Ministério da Agricultura que reúne estatísticas de exportação e importação do agronegócio brasileiro, mostram queda de 36,6% na venda de peixes e frutos do mar do Espírito Santo para o mercado exterior. Em 2023, até setembro, o volume exportado alcançou 558 toneladas, totalizando o valor de US$ 4,94 milhões. No mesmo período do ano passado, foram negociadas 830 toneladas, que somaram US$ 7,8 milhões.
Pelos números, percebe-se que há margem para os pescados atingirem um novo status na balança comercial do agronegócio capixaba. É preciso, no entanto, facilitar a logística de exportação, de forma a reduzir os custos e aumentar a competitividade das empresas do Estado. A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) já mantém contato com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para garantir celeridade na emissão do Certificado Sanitário Internacional para exportação de peixe fresco. Cabe agora ao governo do Estado e à bancada capixaba em Brasília também aderirem a essa mobilização. Acelerar a decolagem de mais um produto do agronegócio capixaba rumo ao exterior depende desse esforço conjunto.
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