A economia brasileira ainda está longe de receber alta, mas o país já dá sinais de que, ao menos, está saindo do coma. São pequenas boas notícias aqui e ali que sugerem que o período de estagnação está, finalmente, ficando para trás. O novo fôlego tem ligação com remédios administrados pelo governo federal, especialmente com a agenda reformista de Paulo Guedes, mas deve-se sobretudo ao consumo das famílias, mesmo em um cenário de desemprego alto. É algo a ser comemorado, mas o quadro ainda inspira cuidados.
Uma das boas novas veio com a divulgação, pelo IBGE, de que o Produto Interno Bruto brasileiro (PIB) cresceu 0,6% no terceiro trimestre de 2019, em relação aos três meses anteriores. O número foi maior do que as expectativas de 35 consultorias, que giravam em torno de 0,4%. O resultado puxou para cima as previsões para o índice do crescimento da atividade econômica no ano, de 0,9% para 1,1% de expansão. Para 2020, há projeções ainda mais otimistas, na casa dos 2,5%.
Outro alento foi o saldo da Black Friday. As vendas do comércio de rua e shopping centers cresceram 9,9%, na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com a Serasa. A movimentação no setor varejista já anima os empresários para o melhor Natal desde 2013. Um desses indicadores é a previsão de contratação de 570 mil pessoas feita pela Associação Brasileira do Trabalho Temporário, 70 mil a mais que no ano passado. Desse total, 85 mil devem ser efetivadas.
O bom desempenho foi impulsionado pelo aumento da renda da população, com saques do FGTS e liberação da primeira parcela do 13º salário, aliados à queda da inflação e da taxa de juros. Mais dinheiro na praça e melhores condições de crédito também impactaram positivamente outros mercados, como os de veículos e imóveis. Grande motor da economia brasileira, o agronegócio também superou expectativas e já traça um cenário com 14% de crescimento para o ano que vem, número impensável até bem pouco tempo atrás.
A recuperação mostra uma mudança importante na dinâmica de crescimento do país. O Brasil sempre esteve acostumado a ver o Estado como indutor do crescimento, mas com as torneiras dos gastos públicos fechadas, devido ao desequilíbrio fiscal, desta vez é o investimento do setor privado que alavanca os bons resultados. Os aportes das empresas avançaram 2%, enquanto os do Executivo recuaram 0,4%. É também uma boa notícia, já que sugere maturidade econômica, mas não exime a responsabilidade dos governos em promover medidas que tornem essa recuperação mais isonômica e sustentável.
Os esboços apresentados pelo Planalto para a reforma tributária, por exemplo, ainda não trazem a robustez necessária para destravar investimentos. Simplificam o sistema, o que é louvável, mas não encostam um dedo na redução da carga de impostos, não traduzida em serviços públicos eficientes. Pelo contrário, até o fantasma da CPMF retornou do mundo dos mortos.
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Mas nem só de agenda econômica vive um desenvolvimento sustentável. O Brasil tem imensos desafios a vencer em outras áreas até que os índices comemorados sejam os que realmente importam, que são os que medem o bem-estar e qualidade de vida da população. A educação é a mais importante dessas áreas e é onde o governo tem a obrigação constitucional de ser o indutor de melhorias, com recursos e políticas eficientes. É preciso o mesmo empenho que vem do ministério da Economia em outras pastas, para tocar pautas que reduzam as desigualdades sociais. Sem isso, os bons ventos que agora sopram vão impulsionar apenas um voo de galinha.
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