Não causa surpresa que a pandemia tenha impactado negativamente o processo educacional na rede estadual. As dificuldades impostas pelas restrições sanitárias, que forçaram a adoção do ensino remoto em 2020, com um breve retorno ao ensino híbrido posteriormente interrompido em março deste ano, quando a quarentena voltou a afastar os alunos da sala de aula, ficaram evidentes, mas faltava quantificá-las. A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) realizou um importante diagnóstico que constatou perdas consideráveis em todas as disciplinas avaliadas, em um comparativo entre julho de 2020 e em maio deste ano.
A piora em todos os índices educacionais é dramática e já coloca a geração que atravessa a vida escolar neste início de nova década como a que exigirá mais atenção dos gestores públicos na história recente. O diagnóstico foi realizado em momento oportuno, e seus resultados vão incitar novas estratégias para reduzir os danos neste ano letivo, que ainda tem um semestre pela frente. A Sedu já anunciou a contratação de professores, com um investimento de R$ 3 milhões, para implementar o reforço obrigatório em Matemática e Língua Portuguesa a todos os alunos.
E as iniciativas emergenciais não partem somente do governo estadual: as prefeituras da Grande Vitória, responsáveis pela gestão da educação básica escolar, já realizaram ou estão em vias de efetivar avaliações do impacto da crise sanitária no aprendizado. E também adotarão ações de reforço, incorporadas à carga horária.
Em Vitória, essa checagem já foi feita no primeiro trimestre, na qual se verificou a defasagem em Língua Portuguesa e Matemática. Cariacica realizou um diagnóstico em 2020, enquanto Vila Velha acabou de aplicar o seu e aguarda os resultados para agosto. Guarapari fez sua avaliação em maio, e a Serra também orientou as unidades de ensino a avaliarem seus alunos.
É preciso correr contra o tempo, disso não resta dúvida. O desenvolvimento pedagógico de crianças e adolescentes caminha de acordo com a faixa etária, e o risco de que fiquem para trás, com a perda de dois anos de estudo, pode colocar esses estudantes numa situação irrecuperável, se nada for feito a tempo.
Quando se fala na possibilidade de uma geração perdida, não se trata de uma hipérbole: é algo plausível. Aplacar os prejuízos educacionais deve ser prioridade de governos em todos os níveis, mas sobretudo uma preocupação da sociedade civil. Se a educação já estava desvalorizada antes de 2020, na atual conjuntura ela corre o risco de ser abandonada por jovens que não encontram estímulo para permanecerem firmes nos estudos.
Um levantamento do Unicef mostrou que mais de 77 mil crianças e adolescentes ficaram de fora da escola no Espírito Santo devido à crise sanitária, em 2020. O número se refere tanto aos alunos que abandonaram os estudos quanto àqueles que não tiveram acesso a materiais de atividades não presenciais.
Sabe-se que a pandemia não foi uma tragédia democrática na educação. A rede particular mostrou uma capacidade de adequação ao ensino remoto, mesmo que também tenha encontrado contratempos, que teve menos impacto na qualidade do ensino. As desigualdades sociais se refletiram nos obstáculos didáticos e expuseram as carências tecnológicas e ambientais, com muitos alunos sem um espaço adequado para o estudo dentro de casa.
É louvável que o governo estadual e as prefeituras estejam tão ativos no propósito de recuperar as perdas da pandemia. "O ano não acabou e podemos intervir nessa realidade. O segundo semestre deste ano é uma janela de oportunidades para fazermos algum tipo de intervenção", reforçou o secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo. É com essa firmeza de propósitos que será possível ao menos mitigar os danos da pandemia. Mas é preciso ter em mente que os impactos na educação não se encerram com o fim deste ano letivo.
Até porque uma nova realidade se apresenta já com a volta às aulas, com a retomada da obrigatoriedade da frequência dos alunos nas escolas públicas no próximo mês. Com todos os profissionais de educação já com pelo menos uma dose das vacinas disponíveis, esse retorno se mostra possível, com a adoção de protocolos sanitários e a manutenção dos revezamentos, no caso de salas de aula que não permitam o distanciamento de 1,5 metro. Mas é preciso estar ciente de que ainda haverá instabilidade no ritmo das aulas, com turmas divididas, algo que exige do professor um desdobramento didático. O retorno gradual exigirá um novo período de adaptação.
Não há dúvidas de que a educação é um ponto muito crítico da pandemia. Que o fechamento das escolas e a falta de infraestrutura para o ensino remoto em tantas famílias agravaram uma situação que já não era nem um pouco confortável, mas que ao menos no Estado vinha paulatinamente melhorando, com a disseminação do ensino integral e redução da evasão. Manter o aluno com foco no estudo, em casa ou em sala de aula, continuará sendo um desafio, com a tarefa ainda mais árdua de recuperação do aprendizado.
Este vídeo pode te interessar
LEIA MAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.