Em Guarapari, falta transparência para o banho de mar

Prefeitura ficou quase dois anos sem divulgar dados sobre a balneabilidade das águas do principal destino turístico do verão capixaba

Publicado em 18/01/2023 às 00h30
Poluição
Esgoto na Praia do Morro, em Guarapari. Crédito: Telespectador | TV Gazeta

O dramaturgo norueguês  Henrik Ibsen, em 1882, já denunciava a irresponsabilidade estatal quando não se tornam públicos fatos que podem trazer prejuízos à saúde e ao bem-estar da população. "Um inimigo do povo" é uma peça teatral que mostra a batalha solitária de Dr. Stockmann contra o poder público e a sociedade local  ao descobrir que as águas de sua pequena cidade-balneário estavam contaminadas, provocando o adoecimento das pessoas. Afinal, aquela era uma informação que teria um impacto direto na maior atividade econômica local, o turismo.

É uma situação que, de certa forma, encontra paralelo atualmente em Guarapari.  Um vídeo divulgado nos telejornais da TV Gazeta na semana passada mostrou esgoto sendo despejado com a força de uma correnteza na Praia do Morro. A prefeitura foi então acionada pela reportagem para fornecer informações sobre a qualidade da água naquele trecho, e qual a surpresa ao se constatar que a informação não era divulgada no site da prefeitura desde fevereiro de 2021.

Após insistência da TV Gazeta, no dia 11 de janeiro foi realizada a coleta de amostras da água em 13 pontos da cidade. Os dados divulgados pela administração municipal na última segunda-feira (16) mostraram que apenas três trechos foram considerados impróprios para banho:

  1. Praia do Morro (em frente ao Ed. Maison Classic)
  2. Praia das Virtudes (em frente à praça)
  3. Praia das Castanheiras (próximo ao Siribeira Iate Clube)

A Prefeitura de Guarapari informou que "considerando as condições meteorológicas antes da análise, que foram de muitas chuvas, uma nova coleta será realizada nesta semana". É meio óbvio, afinal espera-se que haja alguma periodicidade nessas análises. A própria cena do esgoto na Praia do Morro teve impacto das chuvas, um problema crônico segundo moradores. Resultado de ligações irregulares de imóveis, os dejetos acabam se misturando com as águas pluviais e indo parar no mar. O volume, como se viu, é assustador.

Guarapari, com suas praias de águas quase sempre cristalinas, não mostrou a mesma transparência sobre a situação dessas águas.  Esses dados de balneabilidade precisam estar disponíveis em portais oficiais, com acesso simplificado a qualquer cidadão. Mas, mais do que isso, são informações fundamentais para a tomada de decisão por parte de moradores e turistas nos momentos de lazer. Faltam placas nas praias que deixem explícita a qualidade da água. Informação que deve estar sempre atualizada.

O sucesso do turismo pode ser medido pela experiência do turista. Se ele adoecer durante as férias porque mergulhou em mar impróprio, pode ser que nunca mais volte. O poder público e a sociedade devem ter zelo pelas praias, sobretudo em uma cidade que depende tanto do dinheiro trazido pelos visitantes. É crucial que moradores façam a conexão com a rede coletora para evitar cenas estarrecedoras como a do esgoto na Praia do Morro. E as autoridades públicas também precisam zelar pela transparência das informações, ou correm o risco de serem as próprias "inimigas do povo".

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