Todos os esforços empreendidos no Espírito Santo no combate ao novo coronavírus, durante mais de um ano, foram justamente para evitar o colapso do sistema de saúde, situação trágica em que os doentes pela Covid-19 morrem na fila, à espera por atendimento adequado. Apesar de todo empenho, infelizmente o caos bate à porta. Com recordes em cima de recordes, superlotação dos leitos e demanda crescente por internações, o Estado prepara-se para adotar a mais soturna das medidas até agora: um protocolo que vai definir a prioridade na concessão de vagas de UTI. Em outras palavras, equipes médicas terão que enfrentar a escolha de Sofia e privilegiar os casos em que há mais chances de sobrevivência.
O cenário é fruto de uma luta inglória, em que o afinco dos gestores públicos e de parte da população em seguir as regras sanitárias colide frontalmente com o negacionismo e a negligência de algumas pessoas que, a esta altura, ainda não compreenderam a gravidade dos fatos. Como resultado, o Espírito Santo enfrenta uma corrida ingrata contra a pandemia. Por mais que se abram leitos, que se estipule quarentena, o vírus está no encalço dos capixabas.
Nos primeiros dois dias desta semana, o Estado bateu quatro recordes. Desde o início da crise, registrou o maior número de mortes computadas em 24h, com 89 óbitos, a maior quantidade de pessoas internadas devido à Covid-19, com 1.531 pacientes, e o pico de indivíduos assistidos em enfermarias, com 713 leitos ocupados, de acordo com os dados de segunda-feira (29). No dia seguinte, bateu ainda a marca de 3.532 novos diagnósticos positivos em apenas um dia, superando a data de 28 de dezembro, quando 3.517 casos foram confirmados.
Esse ritmo galopante, pressentido desde a semana passada, levou o governador Renato Casagrande (PSB) não apenas a prorrogar a quarentena até o domingo de Páscoa, como também endurecer as determinações, suspendendo o transporte público, por exemplo. O plano de enfrentamento inclui ainda a criação de mais 126 leitos, sendo 69 de UTI e 57 de enfermaria, anunciada na terça-feira (30), o que amplia a capacidade do Espírito Santo para 905 leitos de UTIs exclusivos para o tratamento de Covid-19. No entanto, toda a persistência do governo em frear a pandemia será em vão se não houver também a dedicação dos moradores do Estado.
Será preciso mais afinco do que o entregue até aqui. Apesar da dura quarentena, as restrições de circulação não foram suficientes para interromper a transmissão do novo coronavírus, devido à baixa adesão. Os resultados já começaram a ser sentidos, vide os recordes registrados, e ainda se estenderão pelos próximos dias. O Espírito Santo deve viver o pico da terceira onda da Covid-19 durante esta semana e a seguinte, uma vez que a curva de contágios segue em aceleração. A projeção é que também seja registrada a maior média móvel de óbitos de toda a pandemia.
Máscara, distanciamento e álcool gel transformaram-se no mantra do autocuidado, repetido à exaustão desde março de 2020. Infelizmente, os flagras de aglomerações e de pessoas sem o equipamento de proteção mostram que o bordão tem caído em ouvidos moucos. “Cansamos de contar, todo dia, o número de óbitos por uma doença infectocontagiosa que pode ser evitada desde que cada pessoa compreenda o risco de contrair a doença e infectar uma pessoa querida”, lamentou o secretário de Saúde do Estado, Nésio Fernandes, em uma de suas lives diárias para atualizar a situação do Estado.
A vacinação, porta de saída desta pandemia, será intensificada nos meses de abril e maio, com a chegada de mais doses do Ministério da Saúde e adquiridas via negociações de compra direta com os próprios laboratórios. Mas com a circulação de novas cepas, mais velozes e infecciosas, que atingem em cheio os jovens, a palavra de ordem deve ser responsabilidade, condizente com a maior catástrofe sanitária a que o mundo já assistiu. Não há partido, não há ideologia. Não há nem mesmo espaço para opinião. Os que querem o comércio aberto para a economia girar, os que desejam voltar a viajar, os que sonham com mais um carnaval de rua devem seguir à risca as medidas sanitárias. Em primeiro lugar, por respeito à vida, deles e de outros. Em segundo lugar, porque o mundo depende disso para retomar a normalidade. A empatia não pode se tornar mais uma vítima da Covid.
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