A renda média do brasileiro atingiu o menor patamar da série histórica no primeiro trimestre de 2022, com queda de 8,7%, o menor índice para o período desde 2012. Se a classe média sente o impacto dessa perda de renda a cada ida ao supermercado ou a cada boleto pago, há uma parcela da população que não sabe nem se terá comida na mesa.
Na sexta-feira (29), o ES 1 da TV Gazeta mostrou a realidade de uma família de sete pessoas de Vila Velha que depende de uma renda de R$ 395 para se sustentar. Daniel Roberto da Silva e Vanuza Torres dos Santos são um casal que vive em uma residência precária em Cidade de Deus, região de Barramares, na qual até o banheiro é improvisado. Eles são dois dos cerca de 10 milhões de brasileiros que vivem com menos de meio salário mínimo.
Rodeados por tantas necessidades, economizam usando forno à lenha e fazendo cortes extremos na lista de compras. É a alimentação dos filhos que tira o sono do casal. “Prioridade nossa é não deixar os filhos com fome, e nós vamos sobrevivendo fechando a boca dos adultos”, disse o pai.
É preciso se sensibilizar com essas histórias, porque elas não são exceção. Há uma massa de brasileiros que vive no limiar da fome, em insegurança alimentar. A queda da renda se depara com a redução do poder de compra provocada pela inflação crescente. O desemprego e a informalidade acentuam o drama. O resultado é o crescimento da vulnerabilidade social.
A série de reportagens sobre a pobreza no Espírito Santo, feita por Aline Nunes e Fernando Madeira e publicada por este jornal em março, deu rostos aos números das estatísticas estaduais. Por aqui, mais de 390 mil pessoas não têm comida garantida todos os dias.
Quem tem tão pouco não mede esforços para economizar. O preço do gás, que já abocanha 10% do salário mínimo, fez o item se tornar um luxo para muita gente. Cada vez mais famílias passaram a adotar o fogão à lenha por questões de necessidade. Mas um caso recente teve um fim trágico demais, que não pode deixar de ser lembrado.
Ataíde Moreira Otoni, de 63 anos, morador de Jaguaré, no Norte do Estado, sofreu queimaduras em 99% do corpo e não resistiu. Quando se acidentou, ele cozinhava feijão em um fogão improvisado. “Não passava pela minha cabeça e, certamente, nem pela cabeça dele, como esse fogão poderia ser perigoso. Meu tio tentou uma forma de economizar o dinheiro do gás e acabou perdendo a vida. Foi uma fatalidade”, lamentou o sobrinho dele. Ataíde cuidava sozinho de cinco filhos com problemas psiquiátricos e morava em uma casa pequena construída com o apoio da prefeitura.
As consequências pessoais e sociais do flagelo brasileiro são incontáveis. O empobrecimento mata não só de fome, mas expõe muita gente a vulnerabilidades que também podem tirar muitas vidas: a precariedade que debilita a saúde, a exposição à criminalidade. O país precisa olhar para si mesmo e encarar sua própria debilidade em acabar com esse abismo social que só se aprofunda. E os representantes eleitos precisam começar a levar a sério essa responsabilidade.
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