É muito importante que o Espírito Santo, com sua vocação natural para o comércio exterior, engaje-se nacionalmente para ampliar sua infraestrutura de transportes. A reivindicação contundente pela construção do contorno ferroviário da Serra do Tigre, em Minas Gerais, mostra que os principais atores políticos e econômicos capixabas, do governo estadual ao setor industrial, não estão dispostos a desperdiçar a oportunidade de consolidar o desenvolvimento logístico do Estado, de olho também nas demandas futuras com a expansão do complexo portuário capixaba.
O pleito capixaba envolve a construção de um trecho ferroviário no Estado vizinho para ampliar a capacidade de escoamento de cargas no Corredor Centro-Leste, eixo ferroviário que conecta o Centro-Oeste do país, locomotiva do agronegócio na produção de grãos, e os portos do litoral capixaba. Contudo, o traçado da via, por ser muito íngreme no trecho da Serra do Tigre, cria um gargalo logístico que limita o volume de cargas e faz com que os portos do Rio de Janeiro e São Paulo sejam privilegiados.
O investimento para a obra que pode beneficiar a economia capixaba viria da outorga antecipada da renovação da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica à empresa VLI, nos mesmos moldes da construção do ramal de Cariacica até Anchieta, resultado do novo contrato da Estrada de Ferro Vitória a Minas, prorrogado até 2057. Como investimento adicional, a Vale, operadora da linha, vai construir esse trecho ferroviário no Estado. Mas, para sair do papel, a mineradora ainda aguarda deliberações da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
No caso da Serra do Tigre, formou-se um cabo de guerra entre os interesses capixabas e as intenções do governo federal. No final de maio, soube-se que Brasília só tomará uma decisão sobre a inclusão das obras do contorno na renovação da concessão da FCA após a apresentação de um relatório final da audiência de consulta pública pela ANTT. Mas, desde o início das conversas, há um impasse sobre os dados de viabilidade e de demandas econômicas.
Estudos feitos pela Findes apontam que o contorno ferroviário de 450 quilômetros aumentaria a velocidade média das composições de 16 km/h para 60 km/h, o que incrementaria a capacidade de transporte do Corredor Centro-Leste dos atuais 10 milhões para 31 milhões de toneladas por ano. Já a VLI, concessionária da FCA, afirma que não há gargalo operacional para o corredor de exportação e que existe, inclusive, 50% de ociosidade.
O governo do Espírito Santo, em conjunto com o governo de Minas Gerais e as federações das indústrias dos dois Estados, encomendaram novos estudos para demonstrar a viabilidade e a importância do novo ramal. Na defesa dos interesses capixabas, é fundamental que o Ministério da Infraestrutura seja abastecido de informações para a tomada de decisão.
Diante do conflito de dados, chegar a uma conclusão técnica, sem imposições meramente políticas, é o que vai definir o melhor investimento. A política é obviamente necessária nas negociações, é a ferramenta, com a participação da bancada federal e do Executivo estadual. Não o objetivo.
O Espírito Santo se prepara para receber, nos próximos anos, investimentos da Imetame, do Porto Central, e também da empresa que arrematar a Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), nos Portos de Vitória e Barra do Riacho. A desestatização da empresa federal está prevista para o final deste ano.
O potencial de exportações pelo Espírito Santo é crescente, e a viabilização da infraestrutura que faça as cargas chegarem até seus portos é parte fundamental desse processo. Um Estado posicionado tão estrategicamente na geografia do país precisa ser tratado sem desdém pelos gestores da infraestrutura nacional.
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