A gestão da pandemia pelo poder público mostra que a tomada de decisões, fundamentadas pelos protocolos científicos, deve ser ágil. Não há tempo a perder, tampouco há espaço para pudores em relação a mudanças de diretrizes, quando se antevê um novo comportamento da crise sanitária.
Não é admissível que o país testemunhe o avanço da variante delta sem que se comece a adotar estratégias concretas para se antecipar aos possíveis danos. A aplicação de uma terceira dose, portanto, deixou de ser uma hipótese - países com a vacinação adiantada já tomam essa providência, como Israel, Rússia, Chile e Estados Unidos (o último deve começar a aplicação em setembro).
Nesta segunda-feira (23), a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) anunciou que planeja duas novas medidas para setembro: o reforço da imunização de idosos com a terceira dose e a redução para oito semanas do intervalo entre a aplicação da primeira e da segunda dose dos imunizantes da Pfizer e da Astrazeneca. Atualmente, o intervalo entre a D1 e a D2 da Pfizer é de 12 semanas (ou no mínimo 84 dias) e o da Astrazeneca é de 10 semanas (pelo menos 70 dias).
As duas mudanças associadas vão provocar a aceleração da cobertura vacinal no público na faixa dos 40 anos e, ao mesmo tempo, o aumento da proteção para o público idoso, que recebeu as duas doses há mais de seis meses.
A aplicação da terceira dose no Brasil tem esbarrado justamente no ritmo ainda insuficiente da vacinação, com apenas 24% da população com o esquema completo. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu um adiamento da aplicação das terceiras doses até setembro, temendo que o suprimento global de vacinas se destine ao reforço interno de países com imunização mais avançada, prejudicando aqueles com ritmo mais lento.
Mas é possível tomar decisões racionais: o governo estadual, ao expor um planejamento para a aplicação do reforço no público idoso a partir do próximo mês, já consegue se organizar para proteger o mais rápido possível aqueles que podem estar mais vulneráveis à variante Delta, mais contagiosa. No Rio de Janeiro e em São Paulo, já há um aumento de internações de pessoas com mais de 80 anos, é importante portanto que o Espírito Santo se antecipe a esse cenário.
O secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, informou que esse processo vai depender da oferta de doses pelo Ministério da Saúde. Mais pessoas poderão ser beneficiadas com o reforço na imunização se mais vacinas estiverem disponíveis.
A intercambialidade de vacinas, agora autorizada, deve facilitar a aplicação do reforço, já que a terceira dose poderá ser de outro fabricante. O cronograma de entregas da Pfizer para o Brasil, até o fim do ano, dá um certo otimismo para essa mudança de estratégia. A farmacêutica prevê entre o final de agosto e setembro a entrega de 52,4 milhões de doses. Já de outubro a dezembro, outras 100 milhões de doses estão previstas.
Mas a terceira dose para os idosos (e também para os profissionais de saúde) não pode estar dissociada da aceleração do esquema vacinal completo no restante da população. Só com cobertura vacinal será possível diminuir a circulação do coronavírus e suas variantes. Reduzir o intervalo entre as duas doses será essencial para isso.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou na sexta-feira (20) que a aplicação da terceira dose da vacina vai depender do avanço da imunização com a segunda aplicação no Brasil. "[Em outubro] já teremos um grande contingente vacinado com a segunda dose e já teremos as respostas da ciência para aplicar a terceira dose", afirmou. Já diretores da Anvisa recomendaram que o Plano Nacional de Imunização (PNI) adote, em caráter experimental, o reforço para idosos acima de 80 anos e imunossuprimidos que receberam as duas doses da CoronaVac.
Resumo da ópera: há consenso sobre necessidade de uma terceira dose, mas talvez não haja vacinas suficientes para isso. Não é um problema exclusivo do Brasil, embora o país pudesse ao menos estar com uma cobertura vacinal mais ampla se tivesse se organizado melhor na compra dos imunizantes em 2020. É importante, portanto, que o Espírito Santo (com 81% dos adultos vacinados com ao menos uma dose) comece a se organizar para proteger sua população mais vulnerável.
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