Em 2005, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) deu a dimensão da violência no Espírito Santo naquela época. Com base na taxa de homicídios por 100 mil habitantes, o levantamento colocou o município da Serra como o mais perigoso para se viver no país. Cariacica, Vila Velha e Vitória completaram a participação capixaba no ranking das 20 cidades brasileiras mais violentas naquela ocasião, ocupando a 3ª, a 7ª e a 16ª posições, respectivamente.
Esse foi somente um dos muitos estudos, com metodologias e abordagens distintas das atuais, que rotineiramente traziam as principais cidades capixabas encabeçando a lista das mais violentas do país. Nem chegavam a causar surpresa, dado o nível de descontrole da segurança pública desde o fim do século passado.
Por isso, quando o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022 não traz nenhuma cidade capixaba entre as 50 mais violentas do país, há uma sensação de alívio. É óbvio que gente demais ainda é vítima de mortes violentas no Estado, mas é incontestável o avanço consolidado desde a última década. Esses municípios capixabas já foram os emblemas nacionais da violência, mas esse tempo ficou para trás. E assim precisa permanecer.
Os números de 2022 também colocam o Espírito Santo na 13ª posição nacional, com uma taxa de homicídios de 29,3 por 100 mil habitantes. O número de mortes violentas intencionais foi de 1.122 no ano passado, uma queda de 4,8% na comparação com 2021
Houve redução de 6,1% na quantidade de homicídios dolosos entre 2021 (1.005) e 2022 (950). No mesmo período, foi registrada também queda nos casos de latrocínios (roubos seguidos de morte), passando de 43 para 28, ou 35,3%.
A guerrilha urbana, impulsionada pelo tráfico de drogas, é o cenário da maioria das mortes violentas no Estado. E 2023 é mais um nos quais os desafios se impõem, com os seguidos episódios nos quais facções criminosas fazem demonstrações de força em diferentes bairros da Grande Vitória. O primeiro semestre deste ano já registra um aumento de 7% no número de homicídios em relação ao mesmo período de 2022, um alerta para as autoridades de segurança pública.
Os dados do Anuário deste ano também mostram que há muito trabalho a ser feito na segurança pública além do enfrentamento dos grupos criminosos. No período analisado, houve queda de 13,8% no número de feminicídios no Estado, mas houve crescimento nas tentativas de feminicídio e nas lesões corporais relacionadas à violência doméstica, o que mostra que os crimes de gênero não podem sair do foco das políticas públicas. Assim como aumentaram as agressões contra pessoas LGBTQIAPN+ em 90% no período. Há muito trabalho a ser feito.
A segurança pública é uma área que não permite descanso na gestão. Por mais que os números do Anuário consolidem o Espírito Santo longe do topo da violência no país, esse alívio deve servir como estímulo para a continuidade das medidas que dão certo e a correção de rota quando elas falham.
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