Em artigo recente publicado em sua coluna neste jornal, o economista Orlando Caliman propôs, como exercício de imaginação, que se projetasse como estaria o Espírito Santo atualmente sem o ES 2025, plano de desenvolvimento construído em 2005, e o ES 2030, em 2013. Mesmo que todas as metas traçadas não tenham sido cumpridas, não é forçoso supor que o Estado teria sofrido com muito mais intensidade as intempéries que se abateram sobre todo o planeta com a pandemia do novo coronavírus.
Desde o primeiro plano, e mesmo antes disso, já estavam lá as preocupações com a diversificação da economia capixaba para atenuar a volatilidade das commodities, os desafios impostos à redução da desigualdade social e dos índices de violência e antevisões sobre a pressão que a agenda ambiental exerceria sobre governos e empresas. Com a pandemia do novo coronavírus, velhos e novos problemas que atravancam o desenvolvimento do Estado agora exigem respostas urgentes e precisas.
Algumas delas começam a ser dadas nesta quinta-feira (26), com o lançamento de um novo programa estratégico para os próximos dois anos, o Plano Espírito Santo, cujo propósito é dinamizar o cenário local e acelerar a retomada. Em linhas gerais, conforme adiantou a coluna de Beatriz Seixas, o programa prevê R$ 32 bilhões em investimentos, e as medidas para injetar ânimo na economia incluem linhas de crédito, programas de incentivo à tecnologia e inovação, redução da burocracia e obras de infraestrutura. É um compêndio de esforços, que demanda participação não apenas do governo estadual, mas também da esfera federal e da iniciativa privada para pavimentar o caminho do Estado para fora da crise.
Sem perspectiva de quando se verá livre da pandemia, a gestão de Renato Casagrande mantém o enfrentamento direto ao novo coronavírus no foco, ao mesmo tempo em que planeja a recomposição do ambiente econômico. Após a vacinação, que se espera que chegue logo em 2021, o Espírito Santo terá que lidar com antigos desafios, a exemplo dos gargalos logísticos, e com os escombros deixados pelo efeito cascata da crise sanitária, entre eles o binômio explosivo de baixa da arrecadação e maior demanda por serviços públicos, devido ao empobrecimento da população.
Por isso é elogiável a iniciativa de traçar prioridades e cooptar apoio desde já. O Estado já não vinha de uma posição confortável, com PIB estagnado em 2019, e precisa investir em suas potencialidades para não desperdiçar nenhuma oportunidade de alavancar sua recuperação. A nova lei do gás e o marco do saneamento estão entre os instrumentos que devem ser explorados para atrair investimentos, assim como a desestatização da Codesa.
Nas mãos dos governos estadual e federal estão obras estruturantes pelas quais o Espírito Santo espera há anos e que não podem ser mais adiadas. Reconhecê-las no plano é um passo importante, mas é preciso compromisso para finalmente tirar do papel a Ferrovia EF 118 e a duplicação da BR 262, empacadas em Brasília, e concluir as intervenções no Portal do Príncipe, que tiveram início neste ano após muitas promessas.
Para sair desta crise, não há espaço para improvisos ou hesitações. O plano lançado nesta quinta deve mapear o potencial do Espírito Santo, mas principalmente buscar sanar suas vulnerabilidades. Há também obstáculos históricos a serem debelados, como a formação de mão de obra qualificada, os bolsões de pobreza e os investimentos incipientes em ciência e tecnologia. Contudo, mesmo em meio às incertezas, há bons ventos que vêm ao encontro de vocações do Espírito Santo, sobretudo no comércio exterior e no setor de petróleo e gás. É preciso saber aproveitar a menor brisa, pois como prega o ensinamento atribuído ao filósofo romano Sêneca, já bem em domínio popular, não há vento favorável para barco sem rumo.
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