O jornalismo é frequentemente vinculado ao presente pelas pessoas, às urgências do "agora". Mas todo bom jornalista aprende desde cedo a treinar seu próprio olhar em perspectiva e passa a compreender que muito do que vivemos como sociedade tem berço no passado. A memória é um bem valioso para o aprendizado, para que erros não se repitam por pura ignorância. O jornalismo é suporte para manter essa memória viva.
A reportagem Colônia dos Excluídos exigiu da jornalista Iara Diniz um mergulho em um período no qual pessoas diagnosticadas com hanseníase no Estado eram obrigadas a se isolar na Colônia de Itanhenga, uma verdadeira minicidade construída em 1935 em Cariacica. De lá, ninguém tinha permissão para sair.
Documentos, periódicos, visitas ao local, entrevistas com especialistas, ex-internos e familiares... o resultado é um material que reaviva essa história para quem a conhecia ao mesmo tempo que a revela para as novas gerações. E ninguém sai ileso dessa experiência.
São muitas as razões, portanto, que motivam a realização de uma reportagem desse calibre. E ninguém melhor do que os próprios leitores para dimensionarem o impacto desse resgate:
Sirlene Ribeiro
Leitora
"Parabéns @agazetaes por dar visibilidade e oportunizar um espaço de fala a pessoas que têm tanto para contar. Pessoas tão importantes, mas esquecidas por conta do preconceito"
A reportagem é um alerta para o preconceito. Entre 1920 e 1950, 40 complexos para receber pessoas segregadas do convívio social foram criados em todo o Brasil, um período no qual não havia cura para a doença. Situação diferente de hoje, com tratamentos que evoluíram a ponto de promoverem uma recuperação completa dos pacientes, sem contudo conseguir eliminar o estigma que dificulta até mesmo o diagnóstico.
Kristina Pelicioni
Leitora
"Um lugar de muito sofrimento! Histórias tristes de um povo retirado da sociedade pela falta de conhecimento da época!"
O avanço científico trouxe a cura, mas o aprendizado que fica é o dos danos causados pela segregação compulsória. O medo do contágio foi a motivação. O nível do estigma chegava ao ponto de ser considerado justiça divina, como no caso do interno que não foi julgado em um caso de homicídio porque, para o juiz, ele já havia sido condenado com a doença.
Sirlei Ribeiro de Oliveira
Leitora
"Eu também venho desse lugar, meu pai foi um dos pacientes isolados. Não tive hanseníase, mas convivi com as pessoas que a tiveram. Nasci em meio ao estigma da doença, que há tempos tinha cura "
Centenas de crianças foram privadas do convívio com a família em função dessa política de saúde pública do século passado. Assim, cresceram sem a convivência com os pais, reduzidas a duas visitas por ano. Atualmente, é concedida uma pensão vitalícia de R$ 750 às pessoas que foram diagnosticadas com hanseníase e internadas nas colônias. Esses filhos que foram separados dos pais lutam há alguns anos pelo direito.
Importante saber que o Brasil foi o segundo país no mundo a criminalizar o isolamento compulsório de pessoas com hanseníase. A violação de direitos foi reconhecida em 2007 pelo governo federal. A reportagem também se justifica como reforço à necessidade de o poder público garantir dignidade aos remanescentes da colônia de Cariacica, bem como dar uma destinação às edificações. O governo estadual planeja transformar o local em um centro de memória, é importante que a intenção se concretize.
Ana Clara S. Medeiros
Leitora
"Esse lugar tem muita história pra se contar"
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