As notícias de violência de gênero no Espírito Santo são tão comuns que parecem já ter provocado certa anestesia. Mas é preciso lutar diariamente para que casos de feminicídio e estupro não se banalizem no imaginário coletivo, porque o cenário é de uma tragédia social a qual não podemos nos acostumar.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado no último dia 20, com dados referentes a 2022, mostrou uma redução de 13,8% nos casos de feminicídio no Estado na comparação com 2021, mas as tentativas do mesmo crime saltaram de 53 para 70, um crescimento de 31%. Ou seja, a violência contra as mulheres continua disseminada, apenas (felizmente) culminou em menos mortes de mulheres no período.
O que também chamou atenção nas estatísticas compiladas pelo anuário foi o aumento dos casos de estupro de mulheres adultas e meninas. Em 2022, houve 1.366 ocorrências no Estado, contra 1.113 em 2021, uma variação de 21,9%. A brutalidade refletidas nesses dados no espaço de uma semana se materializaram em pelo menos dois episódios que tiveram destaque no noticiário.
No dia 24, por volta das 20h, uma jovem foi sequestrada por três homens em um ponto de ônibus da Enseada do Suá, em Vitória. Dentro de um carro, sofreu todo tipo de violência, inclusive o estupro. Um caso que expôs que as mulheres ainda correm muito risco no espaço público, estando vulneráveis a ação violenta masculina, como se seus corpos estivessem à disposição. Como podemos dizer que vivemos em uma sociedade civilizada quando tomamos conhecimento de tamanha selvageria?
Um dia antes, no domingo (23), um homem de 31 anos foi preso em Rio Bananal, no Norte do Estado, suspeito de estuprar uma adolescente de 14 anos em um beco, na frente do namorado dela, de 16. Ele estava armado e fez ameaças ao casal.
Faltam palavras para descrever essa atrocidade, da qual mulheres de todas as idades são vítimas. Um crime que não é cometido somente por estranhos, em muitos casos são pessoas próximas, até mesmo familiares, que se tornam os algozes.
Na noite da última quinta-feira (27), o padrasto de uma menina de 11 anos foi linchado na rua após a enteada denunciar que havia sido estuprada por ele. Justiça feita com as própria mãos que também é inaceitável, o que reforça a importância da aplicação da lei com rigor, também para evitar esse tipo de reação motivada pela impunidade.
A legislação mudou ao longo dos anos, ampliou o próprio conceito de estupro para proteger as mulheres com a imposição de mais punição a quem o pratica. Contudo, a impunidade persiste, e o crime continua aterrorizando as mulheres.
O grito de socorro precisa mobilizar as autoridades, que precisam ir além das políticas públicas que nem sempre saem efetivamente do papel. O estupro é das violências que deixam marcas indeléveis, com necessidade de acolhimento. Mas, acima de tudo, é preciso reunir forças para mudar a mentalidade machista que enxerga o corpo feminino como algo que pode ser violado.
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