O Contorno da Serra do Tigre, como já foi dito repetidamente neste espaço, é uma demanda de infraestrutura que vai beneficiar o Espírito Santo, embora localize-se fora de seu território. O pleito capixaba é a construção de um trecho ferroviário em Minas Gerais para ampliar a capacidade de escoamento de cargas do Centro-Oeste, o templo do agronegócio do país, aos portos do litoral capixaba.
Ora, no Espírito Santo é recente a concessão da autoridade portuária à iniciativa privada, com perspectiva de investimentos para aumentar a produtividade. O Portocel, em Aracruz, está investindo na diversificação de suas atividades, enquanto se aguarda a entrega do Porto da Imetame, no mesmo município, prevista para o segundo semestre de 2025. No Sul do Estado, o início das obras do Porto Central, em Presidente Kennedy, segue ainda sem previsão, mas será outro polo relevante para o comércio exterior.
Mas a ampliação da capacidade portuária que se desenha precisa caminhar de mãos dadas com investimentos em ferrrovias. São elas que vão permitir que as cargas cheguem aos portos em maior volume e, consequentemente, em maiores cifras, importantes para um Estado que se prepara para o fim dos benefícios fiscais. O timing é perfeito. Há projetos importantes de irrigação ferroviária no Estado, como a estrada de ferro ligando Santa Leopoldina e Anchieta (Porto de Ubu, da Samarco), como um ramal da Vitória-Minas.
Neste momento, a linha de frente para o Espírito Santo é justamente o Contorno da Serra do Tigre, um trecho de cerca de 400 quilômetros de ferrovia que evitaria o terreno íngreme que reduz a velocidade das composições para 12km/h. Os estudos mostram que, com a obra, a velocidade vai chegar a 40 km/h. Com os gargalos do Porto de Santos, a obra colocaria o Espírito Santo como uma alternativa viável para o setor produtivo, ampliando as exportações brasileiras.
A inclusão da variante no projeto de renovação da concessão da FCA, prevista para terminar em 2026, tem a Findes como grande entusiasta e será defendida pelo governo do Estado, embora encontre resistências (a obra não está incluída no pacote de investimentos proposto pela VLI Logística, empresa responsável pela FCA). A oportunidade de fazer as defesas dessa obra de infraestrutura, a depender do engajamento público do governo estadual, não será perdida. Nem pode.
De acordo com a coluna de Abdo Filho, há também um plano B para conseguir o investimento: um aporte direto do governo federal para a construção do trecho e a administração por parte da concessionária. Essas seriam as cartas do Espírito Santo a serem abertas na mesa, na audiência pública regida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável pela gestão da FCA como ativo federal.
Não é racional que um estado tão estrategicamente localizado como o Espírito Santo siga com uma malha ferroviária tão deficiente, há muitas demandas a serem feitas nesse sentido, que ainda seguem sem sair do papel. O Estado tem potencial para se tornar uma plataforma logística, para ampliar ainda mais o escoamento do agronegócio brasileiro para o mundo. O problema é que seguimos falando sobre esse potencial há tempo demais, quando começará a ser realidade?
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