"Sextou!". Mas essa expressão que nasceu e ganhou popularidade na internet para demarcar a chegada do fim de semana, sobretudo a possibilidade de encontros em bares, festas e reuniões de amigos, ainda está longe de poder ter a mesma conotação dos tempos pré-pandêmicos. A chegada da sexta-feira se tornou um motivo de preocupação, não mais de pura descontração, no que diz respeito à saúde pública e ao enfrentamento da Covid-19.
Os finais de semana têm significado o aumento de festas clandestinas, que continuam sendo registradas com uma recorrência inaceitável. No último sábado (22), uma balada com mais de 500 pessoas em um bar localizado em Jardim Camburi, Vitória, foi encerrada durante uma operação realizada por equipes da força-tarefa municipal que está à frente das fiscalizações. A Capital está classificada como risco moderado de contágio da Covid-19 no Mapa de Risco estadual, e não há autorização para confraternizações desse porte.
Não bastasse o descumprimento às regras de classificação e às normas sanitárias (uso de máscara e distanciamento social) no local, o estabelecimento também funcionava sem os alvarás necessários do Corpo de Bombeiros e da Vigilância Sanitária. Um combo de infrações, potencializando ainda mais os riscos aos frequentadores. Que, é bem verdade, nem deveriam estar aglomerados ali. Mais uma vez, vale repetir: esses eventos ilegais só continuam acontecendo porque há demanda. Principalmente entre os mais jovens, que continuam julgando-se imunes às manifestações mais graves da doença. E desprezando o risco que se tornam às pessoas de sua convivência.
No interior do Estado não é diferente. Também no último sábado, a Polícia Civil e a Polícia Militar no Norte do Estado encerraram uma festa clandestina que acontecia em um sítio de Rio Bananal, cidade que se encontra em risco moderado. Para agravar a situação, durante a abordagem, os policiais disseram ter encontrado grande quantidade de drogas no local.
Em Colatina, duas festas foram interrompidas na mesma noite: uma na avenida Senador Moacyr Dalla, no bairro Colatina Velha, e outra na zona rural, no distrito de Santa Joana. Esse último evento estava sendo realizado em um bar cujo antigo proprietário, que já havia sido autuado por promover aglomeração, veio a falecer em decorrência da Covid-19.
As histórias de badalações nos finais de semana se repetem, mesmo nos períodos de aumento das restrições. A promoção de festas ilegais se tornou um desafio para o controle sanitário, porque as punições cabíveis não parecem surtir efeito inibidor suficiente. Apreensões de equipamentos são facilmente solucionadas, e não parece que a cobrança de multas e os processos por crimes contra à saúde pública sejam de fato repressores.
Não se nega que o setor de eventos é um dos mais prejudicados durante a pandemia. Os números da Associação Brasileira de Promotores de Eventos no Espírito Santo (Abrape-ES) apontam que 10 mil empregos foram extintos no Estado, cerca de 4,5 mil empresas estão sem renda e outras mil não resistiram à paralisação do setor e fecharam.
No último dia 20, a entidade enviou ao governo estadual uma nova proposta que prevê parâmetros de retomada do setor do entretenimento no Estado. A ideia da entidade é retomar os eventos para até 300 pessoas em cidades de risco moderado e 500 pessoas para risco baixo. Com o encerramento da vacinação de toda a população com comorbidades do Espírito Santo, o número aumentaria para 700 pessoas em risco baixo e 400, em moderado.
O governo do Estado afirmou que vai estudar a proposta. É preciso cautela, porque especialistas dentro do próprio Palácio Anchieta afirmam que um novo pico de casos pode estar próximo. A vacinação precisa avançar, então a conjuntura é o que deve guiar as decisões. O Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) foi sancionado no início de maio pelo presidente Jair Bolsonaro para permitir desconto de até 70% em dívidas tributárias e também ampliação de crédito para essas empresas. Mas sem perspectivas de retorno às atividades, não há melhora concreta.
Compreende-se que há uma urgência no setor. Mas a crise de saúde pública, por mais que se abrande, ainda está longe de acabar. As aglomerações promovidas em festas ilegais acabam sendo um vetor para a disseminação do coronavírus, alimentando um ciclo sem fim na pandemia. O risco baixo e o risco moderado não significam que o risco inexiste, e realizar eventos sem obedecer aos critérios de segurança é investimento em novas ondas da Covid-19, cada vez mais arrasadoras. As novas variantes não podem ser subestimadas.
Festas só deixarão de ser uma questão de saúde pública com a população amplamente vacinada. Só então o verbo "sextar", mesmo fora dos dicionários, vai voltar ao seu significado original.
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