Assim que o auxílio emergencial começou a ser distribuído, em abril, foi como se abrissem a Caixa de Pandora, deixando escapar todos os males possíveis. Desde o início, sabia-se que seria impossível conter os aproveitadores, mas a urgência de fazer a renda chegar aos mais necessitados para garantir sua sobrevivência durante a pandemia deveria estar acima de tudo, com ajustes sendo realizados no decorrer do processo. E assim foi feito, corretamente. Só que não há como não se impressionar com o tamanho do estrago até agora. Nem a maior crise sanitária desta geração está sendo capaz de frear os impulsos criminosos.
Primeiro, os R$ 600 não encontraram facilmente o bolso de uma parcela considerável da população, fora de cadastros sociais do governo. E também de imediato tomou forma uma grande contradição: enquanto engrossou-se uma fila de espera que chegou a 10,6 milhões de pessoas aguardando uma resposta do governo para receber o auxílio, solicitantes não qualificados para o recebimento da ajuda governamental, em ações fraudulentas, tiveram acesso ao dinheiro com uma rapidez invejável. O paradoxo expõe as deficiências na distribuição, que ainda não conseguiram ser sanadas. Fraudes continuam ocorrendo. E quase 2 milhões de pessoas ainda não sabem se terão o valor liberado.
Na semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a suspensão da concessão a 620 mil pessoas em todo o país por suspeita de fraude. Há até 17 mil mortos entre os beneficiários. Os pagamentos irregulares podem causar um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos, caso não sejam interrompidos. Há aposentados da Justiça Federal e do Banco Central, com aposentadorias de R$ 25 mil e R$ 50 mil por mês, na lista. No governo estadual, há mais de mil servidores ativos e inativos que receberam o benefício. E os exemplos de oportunistas se avolumam, reforçando um déficit ético que não dá trégua nem na calamidade.
Agora, a nova modalidade de golpe afeta quem de fato depende do auxílio para atravessar a crise sanitária. Bandidos estão tendo como alvo não só ao auxílio emergencial, mas também o benefício emergencial de preservação do emprego e da renda (BEm). Os criminosos estão se aproveitando de falhas nos aplicativos para acessar os sistemas de pagamentos criados pelos bancos públicos e roubar as quantias depositadas.
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É inevitável: onde há uma brecha, há alguém tentando se dar bem, mesmo que à custa do sofrimento de tantos. O governo federal acaba de anunciar a prorrogação do pagamento do auxílio emergencial por mais dois meses. Não há fraude ou roubo que justifique a interrupção do benefício em um momento tão dramático para um exército de brasileiros sem emprego ou impedidos de trabalhar. Mas o Estado precisa também urgentemente se cercar de mais segurança para minimizar essas falhas estruturais que causam tantos prejuízos aos cofres públicos.
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