Os percalços para conseguir atendimento na rede pública do país são tão antigos quanto conhecidos. É justamente por ser uma rotina, e não uma exceção, que o calvário da população causa tanta indignação. O cenário flagrado na manhã desta sexta-feira (9) na unidade de São João Batista, em Vila Velha, é um retrato pungente do descaso. Mais de 100 pessoas esperavam por uma senha para conseguir um simples agendamento de consulta. Em vão. Antes da distribuição, foram mandadas embora.
Em nota, a Prefeitura de Vila Velha informou que o motivo da fila e da dispensa foi “a queda repentina na transmissão de internet”. No entanto, os depoimentos de quem penou na rua, ao sol, mostram que as longas esperas não são um problema pontual. Velha e conhecida, a situação revolta. “É humilhante, porque eu paguei o INSS toda a minha vida até eu me aposentar. Já é a quinta vez que eu venho, e é só sexta-feira que eles marcam, e eu não consigo agendar”, contou a moradora Normal Oliveira à TV Gazeta.
A reportagem chegou à unidade de saúde devido à denúncia de outro paciente, que se surpreendeu com o tamanho da fila ao chegar ao local. Era a segunda vez que o aposentado Darcy José Gonçalves tentava agendar a consulta. Mais uma vez, voltou para casa sem previsão de quando poderá ver um médico.
A situação enfrentada pelos moradores levanta uma série de questionamentos sobre a seriedade com que a Prefeitura de Vila Velha encara a gestão da saúde pública. A crise não começa com a dispensa dos pacientes por um problema técnico, mas sim culmina nesse episódio.
Em primeiro lugar, não é razoável que a administração não conte com sistema de agendamento on-line, que evitaria que centenas de idosos, pessoas carentes e com dificuldade de locomoção tivessem que comparecer presencialmente a uma unidade para o simples ato de marcar uma consulta. Enquanto a tecnologia já comum em outros municípios, inclusive vizinhos, não chega a Vila Velha - e já que é praxe que filas se formem, como atestam os moradores -, por que os dias de agendamento não foram estendidos, para evitar longas esperas? Por que o espaço físico não foi preparado para acolher a população, em vez de deixá-la à mercê de sol e chuva por horas a fio? Por fim, a prefeitura deveria ter um plano B para o contribuinte, em vez de simplesmente mandá-lo para casa.
Vale ressaltar que o calvário registrado nesta sexta-feira em Vila Velha não é pontual, limitado ao município. É algo que se espalha por quase todo o serviço público nacional. Basta ver o caos causado pela crise dos peritos do INSS. A falta de respeito com o cidadão é a regra.
A via-crúcis desta manhã, frise-se, foi apenas para a marcação de consulta com um clínico-geral. Depois os pacientes poderão ainda enfrentar outra fila para o atendimento e, se forem encaminhados para um especialista, sofrer tudo de novo. Nesta manhã, a Secretaria de Saúde de Vila Velha pediu desculpas à população pelo transtorno “transitório e involuntário”. Caso não seja nem uma coisa nem outra, outros Darcys estarão atentos para denunciar. E a imprensa estará alerta para cobrar.
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