“Quem se desloca recebe. Quem pede tem preferência”. Uma das frases folclóricas que ficaram famosas no futebol mostra que, num jogo, não adianta apenas estar bem colocado. É preciso deixar claro que você também está a fim de receber a bola. Pedi-la ao companheiro de time, que pode não estar te vendo naquele momento, para que, assim, consiga fazer seu lance dentro de campo. Quem sabe até o gol da vitória.
Essa lição folclórica do futebol serve para que o Espírito Santo saiba como se comportar em campo no jogo com a Petrobras. A relação com a estatal tem grande importância econômica para o Estado, que precisa sempre se fazer ser ouvido para não ter seus interesses esquecidos. Principalmente diante das constantes interferências do governo federal no comando da empresa.
Bem posicionado, o Espírito Santo já está. Fechou 2023 como o terceiro maior produtor de petróleo do país, com 169,7 mil barris por dia. Nesse aspecto, o governador Renato Casagrande (PSB) criou uma boa jogada ao se reunir com a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, no último dia 18, no Rio de Janeiro. Lá, apresentou demandas capixabas para o setor, algumas delas bem antigas, como destacou o colunista Abdo Filho.
A iniciativa se mostrou fundamental, visto que, no mesmo dia da reunião com o governador, Magda Chambriard anunciou que o novo navio-plataforma da Petrobras no Estado, Maria Quitéria, iniciará suas atividades ainda este ano. Serão 100 mil barris por dia a mais na produção de petróleo no litoral capixaba.
Já dá para comemorar essa vitória, fundamental para o setor petrolífero capixaba. Mas há outras demandas apresentadas por Casagrande que ainda estão à espera de resultado. Quando esteve em Vitória, no ano passado, o então presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que as duas unidades de tratamento de gás da empresa no Espírito Santo, em Linhares e Anchieta, seriam estratégicas diante da pressão da indústria e do próprio governo federal para que a estatal ampliasse a oferta de gás ao mercado.
Porém, passado um ano, a Unidade de Tratamento de Gás Sul Capixaba (UTGSUL), em Anchieta, continua sendo um “bode na sala” para a Petrobras, como lembrou Abdo Filho. A planta está praticamente parada, mesmo tendo capacidade para tratar 2,5 milhões de m³ de gás natural por dia, e a estatal disse que ainda estuda alternativas para o local. Já a Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas, em Linhares, apesar de ter estrutura para processar 25 milhões de m³ por dia, é subaproveitada e produz atualmente apenas 3 milhões de m³ por dia.
São demandas que precisam de resposta da Petrobras, em meio a mais uma troca de comando. Prates deixou a presidência da estatal em maio, por decisão do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em mais uma prática intervencionista na petrolífera. Algo que, historicamente, não é exclusividade do atual governo. Essa interferência já foi realizada por Bolsonaro, Dilma e pelo próprio Lula, em mandatos anteriores. O que provoca instabilidade na empresa e traz incertezas ao Espírito Santo, em relação a qual caminho será seguido pela nova direção. Como já foi dito neste espaço, independentemente de quem está no poder, no final, quem paga a conta é o consumidor.
Diante do constante troca-troca na estatal, não dá para “jogar parado” – nem calado. Por isso, o governador faz bem em manter contato constante com a Petrobras, seja lá quem esteja na presidência. Nos cinco primeiros meses deste ano, a receita do governo do Espírito Santo com royalties e participações especiais (sem incluir os municípios) ficou em R$ 535 milhões, 76,9% acima dos R$ 302 milhões faturados no mesmo período de 2023. Números que por si só demonstram a importância da exploração petrolífera para a economia capixaba. E reforçam a necessidade de marcar em cima para que as demandas do Estado não sejam jogadas para escanteio em meio às mudanças de política e estratégia da estatal.
LEIA MAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.