Fuga da prisão: nos EUA ou no ES, a desmoralização é a mesma

Na Pensilvânia, os policiais levaram alguns dribles do brasileiro em fuga, mas não descansaram até encontrá-lo. Por aqui, tão importante quanto trazer de volta os fugitivos é trabalhar para que essas fugas não virem rotina

Publicado em 14/09/2023 às 01h00
Fuga
À esquerda, o brasileiro Danilo  Cavalcante, 34, capturado nos EUA; à direita, os 14 detentos que fugiram no ES na última semana. Crédito: Reprodução

fuga do brasileiro Danilo Cavalcante, condenado à prisão perpétua na Pensilvânia, no EUA, foi acompanhada como uma série de ação até a captura dele pela polícia norte-americana, nesta quarta-feira (13). Da forma inusitada como ele conseguiu escapar da prisão no condado de Chester, em 31 de agosto, à mobilização das forças policiais nesses 14 dias em que esteve foragido, o roteiro da vida real foi  tão eletrizante quanto os da ficção. 

Enquanto o brasileiro protagonizava essa fuga nos EUA, aqui no Espírito Santo, em menos de uma semana, foram registrados dois episódios de fuga do sistema prisional. No primeiro, sete presos escaparam do Centro de Detenção Provisória da Serra (CDPS), no último dia 6. Na segunda ação, na noite desta segunda-feira (11), outros sete detentos conseguiram fugir da Penitenciária Estadual de Vila Velha (PEVV VI)

De um lado, o Sindicato dos Inspetores Penitenciários do Espírito Santo (Sindaspes) apontou a superlotação das unidades como razão para duas ocorrências em tão pouco tempo e alegou que há "um número baixo de servidores" para monitorar os presos, enquanto a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) afirmou manter "efetivo proporcional nas unidades prisionais para garantir a segurança das operações".

Há um choque de narrativas. O fato é que um número considerável de presos, com fichas criminais que incluem assassinatos e estupros,  conseguiu escapar de um sistema penitenciário que deveria mantê-los sob sua custódia. Pior: o presídio onde ocorreram as fugas na segunda-feira foi inaugurado em 25 de julho deste ano, um investimento de R$ 57 milhões, com vagas para os regimes fechado e semiaberto. 

Em agosto, a Defensoria Pública do Espírito Santo já havia denunciado a superlotação dessa nova unidade. De acordo com o órgão, até o final do dia 4 daquele mês, com a transferência de presos, cerca de 1.600 internos já estariam acomodados no local. A capacidade é de 800 presos.

Os criminosos que escaparam, agora nas ruas, colocam a população em risco. Um deles foi recapturado em Atílio Vivácqua, no Sul do Estado. O exemplo dos policiais norte-americanos, que trataram a fuga do brasileiro como questão de honra, deve ser seguido pelas forças policiais no encalço desses fugitivos. Trazê-los de volta para o sistema ajuda  a amenizar o descrédito provocado pela fuga.

A apuração das circunstâncias dessas evasões deve ser uma prioridade da Sejus, para que não se repitam. É preciso encontrar as falhas no sistema, estruturais ou de recursos humanos. O Espírito Santo tem um passado de descontrole no sistema carcerário que é uma mancha em sua história. Qualquer sinal de que a situação possa estar saindo dos trilhos deve ser encarada com seriedade.

Nos Estados Unidos ou aqui, quando um preso foge, é porque o sistema falhou. Algo deu errado. Acaba sendo uma situação desmoralizante, o que faz a diferença é a forma de reagir. Na Pensilvânia, os policiais levaram alguns dribles do brasileiro em fuga, mas não descansaram até encontrá-lo. Por aqui, tão importante quanto trazer de volta os fugitivos é trabalhar para que essas fugas não virem rotina.

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