Gasolina adulterada: segurança do consumidor está acima de qualquer suspeita

Postos da Grande Vitória investigados por envolvimento em fraude de combustíveis continuaram funcionando mesmo após deflagração de operação na última semana

Publicado em 20/04/2022 às 02h00
Naftalina
ANP analisa qualidade dos combustíveis na Operação Naftalina, da PF e PRF, contra esquema de adulteração em oito postos da Grande Vitória. Crédito: Ricardo Medeiros

Quando a Operação Naftalina foi deflagrada no último dia 12, as investigações da Polícia Federal revelaram um esquema criminoso, supostamente encabeçado por um miliciano do Rio de Janeiro, que adulterava gasolina e revendia o combustível em oito postos da Grande Vitória. Chamou atenção, contudo, que muitos dos estabelecimentos tenham permanecido abertos, com atendimento normal aos clientes.

Uma situação paradoxal, pois ao mesmo tempo que a operação expôs uma fraude prejudicial ao consumidor  — as investigações apontam que a gasolina foi "batizada" com nafta solvente e álcool hidratado, com uso de corante para dar a cor característica ao combustível irregular —,  clientes desavisados poderiam continuar abastecendo seus carros com um produto cuja qualidade estava sob suspeita.

A Polícia Federal informou que no dia da operação foram cumpridos mandados de prisão e de busca e apreensão, mas os pedidos de interdição dos postos investigados foram direcionados pela Justiça à Junta Comercial do Estado, que regulamenta o funcionamento dos estabelecimentos no Espírito Santo. Em reportagem publicada no dia 13, o órgão afirmou que não havia sido notificado, o que só aconteceu no dia seguinte. Em algum nível, parece ter havido uma falha na comunicação.

Como há todo um rito burocrático para que a ANP chegue a lacrar as bombas, com a necessidade de instalação de um processo administrativo no qual se concede o direito de defesa aos proprietários, na prática os consumidores continuam vulneráveis, já que os postos podem continuar negociando o combustível.

A própria ANP esclareceu que a interdição é uma medida cautelar. "Não se trata de punição, mas de medida para proteger o consumidor. Quando o problema é sanado, a ANP realiza a desinterdição", explicou a autarquia. 

Enquanto há suspeita, o consumidor precisa estar protegido de alguma forma. Combustíveis adulterados podem provocar danos aos veículos, causando não somente prejuízos ao bolso, mas colocando em risco motoristas e passageiros. Não se coloca em questão que os investigados devem ter direito à ampla defesa, com a garantia do devido processo legal. Mas não parece racional que postos sigam comercializando produtos de qualidade duvidosa.

Em um desses locais, um fotógrafo de A Gazeta chegou a sofrer intimidação e coação por dois homens que o obrigaram a apagar imagens do posto feitas por ele. O profissional da imprensa cumpria o compromisso de informar a sociedade. Informação que pode ser decisiva para as escolhas do consumidor, quando os postos sob suspeição seguem abertos.

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