Ao se saber que, antes mesmo de começarem a cobrar de empresários "pedágios" para manterem seus negócios em funcionamento, a ideia inicial de uma facção do tráfico da Grande Vitória era "empreender", com a criação de uma provedora clandestina de internet, fica evidente a urgência de uma ação mais estratégica do Estado para cortar as asas desses criminosos.
Ora, é uma ambição perigosa, que foi registrada nos relatórios da Operação Sicário II, da Polícia Civil, revelados pela colunista Vilmara Fernandes. Foi durante a pandemia que os criminosos planejaram tomar, sob coação, as empresas que prestam o serviço. O recurso mais extremo, o de assassinar os proprietários que não aceitassem entregar seus negócios, estava entre as possibilidades.
Nos bairros dominados por essas gangues, é relativamente simples inviabilizar o funcionamento dessas empresas que fornecem internet, com o corte dos cabos que levam o sinal para as residências e a ameaça a funcionários. A dificuldade encontrada pelos traficantes, por outro lado, é a falta de conhecimento técnico para continuar prestando o serviço.
A situação subverte a lógica: atrapalha os negócios de empresários que ajudam a gerar empregos e riquezas para o país para beneficiar criminosos que buscam formas de financiar a compra dos próprios arsenais. Imagine a sensação desesperadora de investir em uma empresa e ser obrigado a entregá-la a bandidos, que vão usar a infraestrutura para comercializar internet de forma ilegal. No Rio de Janeiro, essa é uma prática que foi iniciada pelas milícias, mas se disseminou também como uma fonte de arrecadação para o tráfico.
Dinheiro é o que fortalece o crime. É aquilo que o viabiliza. Nos planos, os traficantes esperavam uma receita para os cofres do crime entre R$ 300 mil e R$ 1 milhão. Dentro ou fora da realidade, são valores que enchem os olhos. Por isso, é quase certo que não tenham desistido desses propósitos, basta encontrar os espaços para as ameaças e extorsões e assim conseguir cercear os serviços legais de internet ou outros negócios que atraiam o interesse.
É nesse ponto que o Estado não pode falhar. Além de garantir a segurança àqueles sob ameaças, que devem se sentir protegidos para denunciá-las, precisa ocupar os espaços nesses bairros para que os criminosos não continuem se sobrepondo à lei. Traficantes não são donos dos bairros, das ruas ou das pessoas. Até que ponto o "gatonet", dentro da lógica do comércio, já não é uma realidade no Espírito Santo? Qualquer avanço precisa ser contido o quanto antes. Não podem ganhar asas.
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