O Globo de Ouro pela excepcional atuação de Fernanda Torres em "Ainda estou aqui" é um marco para o cinema nacional, sendo ela a primeira atriz brasileira a vencer a categoria Melhor Atriz em Filme de Drama nesta que é uma das mais importantes premiações do planeta. Basta olhar para as concorrentes para ter a dimensão do feito, todas integrantes de um clube tão seleto quanto Hollywood. Fernanda ainda conseguiu superar a quase intransponível barreira da língua.
Desde "O Pagador de Promessas", que levou a Palma de Ouro em Cannes em 1962, produções cinematográficas nacionais, bem como atores, atrizes e diretores brasileiros, pontualmente conseguiram indicações ou premiações internacionais. A própria Fernanda já havia conquistado a Palma de Ouro de Melhor Atriz por "Eu sei que vou te amar", de Arnaldo Jabor, em 1986.
De Hector Babenco indicado a Melhor Direção por "O Beijo da Mulher-Aranha" em 1986, passando por Fernanda Montenegro indicada a Melhor Atriz em 1999 por "Central do Brasil" e chegando a Fernando Meirelles na categoria de Melhor Direção em 2004 por "Cidade de Deus", o Oscar ainda não chegou. Nem por filme internacional, nem por outras categorias específicas. A expectativa com "Ainda estou aqui" é enorme.
Mas o êxito de Fernanda Torres, além de ajudar a abrir as portas do cinema brasileiro para o mundo, é mais uma peça fundamental na forma como o Brasil se apresenta internacionalmente. Sim, temos cinema de primeira linha. Sabemos contar nossas histórias, mesmo que elas sejam dolorosas como a da família Paiva durante a ditadura militar. O que nos é tão particular pode ser expresso de forma universal.
A cultura brasileira já ultrapassou as fronteiras com a bossa nova e o samba. Estrelas da MPB têm público cativo e notoriedade da crítica. Somos conhecidos em vários países por nossas novelas e nossa publicidade criativa. O futebol brasileiro fez história, assim como tantos outros esportes. Há todo um prestígio que não pode ser desperdiçado, é uma forma de exercer influência em todo o mundo com o que há de melhor produzido pelo brasileiro. Isso é o que se chama de soft power, e o Brasil deve não somente aproveitar essas ondas em que ele se fortalece, como expandi-lo para outras áreas.
Podemos ser mais relevantes no desenvolvimento tecnológico, e consequentemente no econômico. Temos belezas naturais exuberantes, que podem ser mais marcantes como um destino turístico. Temos um dos maiores ativos ambientais do planeta, um ecossistema incomparável, para colocar o país no protagonismo internacional da preservação do meio ambiente. Diante das mudanças climáticas, esse papel brasileiro precisa ser consolidado globalmente.
Fernanda Torres "totalmente premiada", como repete o meme da internet, é um símbolo de um país com potencial inesgotável, não só na cultura, como em tantas outras áreas. Não é ufanismo, é a comprovação de que podemos ir sempre mais longe como país.
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