Embora ainda estejam sendo investigadas as circunstâncias que levaram ao intenso tiroteio ocorrido na madrugada de domingo (25) na região de Gurigica, em Vitória, é incontestável que criminosos do tráfico conseguiram forjar mais um cenário de intimidação preocupante.
Sobretudo pela morte de um paciente em pleno leito de uma clínica na Av. Leitão da Silva, mas também pelo cenário de guerra: não há lembrança de outra ocorrência que tenha colecionado tantos vestígios de tiros em diversos pontos da região, com prédios e carros atingidos. Até a janela de um consultório odontológico localizado na Reta da Penha, relativamente distante do epicentro da violência, foi alvejada.
A indignação não vem do fato de a violência ter chegado ao asfalto. É inconcebível que moradores de bairros conflagrados tenham que conviver com tiroteios, em uma situação de constante tensão. Não há qualidade de vida quando se convive com o medo de ser alvo de um disparo.
Contudo, o que a sociedade teme é que o Estado seja expulso desses bairros, em uma situação similar à testemunhada no Rio de Janeiro nas últimas décadas. A PM capixaba afirma que sobe qualquer morro, que não há estado paralelo. A sensação que se tem na Grande Vitória é a de que vivemos em um constante sinal amarelo, que em ocasiões como a da madrugada de domingo avançam para o vermelho e depois recuam. Uma linha tênue demais para o descontrole e a dominação criminosa. É de tirar o sono.
Por isso, é justificável que a sociedade clame por alguma mobilização do poder público. O governador Renato Casagrande precisa tomar essa frente. Em março deste ano, o governo estadual ingressou com as forças de segurança estaduais na Força-Tarefa de Segurança Pública da Polícia Federal, quase um ano e meio após a sua criação. Desde então, não se teve mais notícia dessa integração que, se bem realizada, será de grande proveito para um combate ao tráfico com cooperação institucional em todas as esferas. Uma oportunidade de aperfeiçoar o enfrentamento da criminalidade com o envolvimento de todas as polícias.
E não só isso: é preciso o envolvimento do Ministério Público e do Judiciário. Sem ficar o tempo todo culpando as fragilidades da legislação, que de fato pode ser aprimorada em diversos pontos, mas cobrando daqueles que estão em Brasília. Deputados e senadores do Espírito Santo precisam se envolver com mais alma e assumir o protagonismo quando ocorrências como a deste final de semana dão sinais de que a criminalidade está indo longe demais.
O som dos tiros foi ensurdecedor nos arredores da região de Gurigica, como também já foi em outros bairros da Grande Vitória em outras ocasiões. Um barulho que precisa acordar as autoridades capixabas.
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