A pandemia, com todas suas irrecuperáveis perdas humanas e econômicas, tem dado algumas duras lições para a vida em sociedade. E a educação, como primeira etapa de socialização e cidadania, tem sofrido as feridas mais dolorosas, com o aprofundamento dos abismos entre os estudantes da rede privada e pública, mas, mais do que isso, a evidência das disparidades regionais do próprio ensino público.
Assim, o abandono e a evasão escolar — termos com valores estatísticos distintos, sendo o primeiro referente ao aluno que não termina o ano letivo, mas volta no seguinte, e o segundo no caso do estudante que deixa definitivamente o sistema educacional — não são fenômenos meramente pandêmicos no país, mas com a Covid-19 já se acentuam como uma espécie de epidemia educacional, se não houver um aprendizado imediato na gestão pública.
No Indicador de Permanência Escolar, um levantamento realizado pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), as informações do Censo Escolar foram usadas para calcular o percentual de estudantes que passaram pela escola e a abandonaram. O diferencial foi colocar na conta todos os estudantes que deixaram os estudos, não somente os do ano anterior, como geralmente são calculados o abandono e a evasão.
Com esses dados, foi possível relacioná-los com o status da pandemia nos Estados. Das 15 unidades federativas com taxa de jovens fora da escola mais alta do que a média do país, 11 ainda não haviam retornado com aulas presenciais nas redes públicas. O que mostra que a situação extraordinária provocada pela crise sanitária, ao excluir temporariamente a sala de aula do contexto educativo, tende a prolongar os prejuízos educacionais acumulados ao longo dos anos.
É incontestável que se a educação no Brasil, em todos os níveis, viesse de uma tendência de melhora de qualidade, os impactos da pandemia seriam menores. E isso tem relação direta com os déficits sociais e econômicos que pesam sobre a população: como garantir o estudo remoto em casas onde não há espaço para tal, muito menos acesso à internet e a equipamentos?
A derrocada educacional brasileira está se dando sob uma tempestade perfeita, na qual todos os fatores negativos, dos investimentos mal alocados à falta de visão pura e simples, se uniram à própria pandemia para engrossar os danos a esta geração. O vírus que atacou a educação no país é muito anterior ao coronavírus, portanto.
Manter o estudante em sala de aula, mesmo que metaforicamente quando se fizer necessário, é o maior desafio social do país neste momento. A aceleração da vacinação de profissionais da educação é uma ação emergencial para a volta a algum nível de normalidade. No Espírito Santo, o governo se comprometeu a completar essa etapa vacinal até o fim deste mês, para garantir que o segundo semestre letivo transcorra com mais tranquilidade do que o primeiro, mesmo com a iminência de novas ondas.
Neste momento, o Mapa de Risco mostra que 46 municípios do Estado estão em risco moderado, o que permite aulas presenciais com até 50% da capacidade. Nas 19 cidades em risco máximo, somente a educação infantil e ensino fundamental I (1º a 5º ano) podem ser presenciais, também respeitando o limite de 50% de ocupação das salas.
A vacinação de professores é a ação mais urgente, mas não resolve o problema, que é estrutural. Uma reunião de carências estratégicas que independem da própria pandemia: a crise sanitária serviu para expor cruelmente as fragilidades educacionais brasileiras. A transformação exige trabalho, em cada secretaria municipal, assim como no âmbito estadual. E, sobretudo, deve ser bem gerenciada nacionalmente.
Nesta segunda-feira (07), o ministro da Educação, Milton Ribeiro, visita o Espírito Santo com uma pauta positiva relacionada ao Ifes, uma ilha de excelência do ensino brasileiro, no nível federal. Não pode, de forma alguma, ser abandonado. Mas, neste momento tão duro para a educação, um olhar propositivo da pasta para a superação da mazela maior, que é um estudante abandonar os estudos pela falta de perspectivas, seria muito bem-vindo.
Este vídeo pode te interessar
LEIA MAIS EDITORIAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.