Mais uma vez neste mês, moradores de Itararé, em Vitória, foram testemunhas de rajadas de tiros, durante a madrugada desta segunda-feira (13). Cenas repetidas, como as do último dia 3, quando vídeos divulgados nas redes sociais também mostraram o resultado daquela madrugada de terror: centenas de cápsulas recolhidas no bairro, o suficiente para encher uma bacia. No mês passado, um adolescente de 15 anos foi morto a tiros após outra madrugada de disparos no bairro.
O desassossego em Itararé é só um exemplo de um mesmo roteiro que se repete em bairros de Vila Velha (que no início de outubro foi cenário de tiros, morte, protesto e ataque a ônibus em Ilha da Conceição), Cariacica ou Serra. As disputas do tráfico são o capítulo mais relevante da segurança pública capixaba, mas há mais feridas abertas: da violência de gênero aos crimes patrimoniais, quem vive no Espírito Santo acaba tendo que conviver com a falta de tranquilidade exposta diariamente no noticiário.
Há de se reforçar os avanços: o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022 não trouxe nenhuma cidade capixaba entre as 50 mais violentas do país, algo bem diferente de 20 anos atrás, quando Serra, Cariacica, Vila Velha e Vitória eram figuras cativas nos rankings nacionais, muitas vezes encabeçando as listas.
Mas os avanços vão ficando para trás diante da percepção de uma violência incessante. Os tiros que ecoam pela madrugada na Grande Vitória, de forma cada vez mais frequente, são sinalizadores da desordem, das desigualdades sociais, da incapacidade de o Estado brasileiro se fazer presente. Paradoxalmente, um país que não se envolve diretamente em guerras, mas que vive suas guerras particulares.
E essa violência cotidiana tem impacto direto nos atrasos de desenvolvimento. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública informou que o custo da violência no país, em 2017, era de R$ 258 bilhões. Um prejuízo relacionado sobretudo com o desperdício de capital humano, com impacto direto na produtividade.
Durante o Pedra Azul Summit 2023, encontro de lideranças políticas e empresariais promovido pela Rede Gazeta, a economista-chefe e diretora de Macroeconomia do Banco Santander, a capixaba Ana Paula Vescovi, abordou o tema, enfocando principalmente a atuação das milícias no Rio de Janeiro como um fator inibidor do crescimento do país. Mas foi otimista: "O país tem técnica e instituições públicas com capacidade para enfrentar a violência".
Não há alternativa para um país que sonha com dias melhores. A segurança pública é uma questão civilizatória brasileira a ser resolvida, e é um fator central para o crescimento econômico.
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