Menos de 24 horas após ser menosprezada pelo presidente Jair Bolsonaro, que a chamou de “pirralha”, a ativista sueca Greta Thunberg foi eleita a pessoa mais influente do ano pela revista “Time”. A disparidade de visões sobre Greta diz muito sobre a postura adotada por alguns países, entre eles o Brasil, de ideologizar o clima, em vez de encarar de forma adulta e responsável os desafios que o desenvolvimento sustentável impõe.
Aos 16 anos, a menina de tranças e discurso enérgico tornou-se o rosto da nova geração na luta contra as mudanças climáticas. Desde o movimento #FridaysForFuture, de greves estudantis às sextas-feiras, que se espalhou por mais de 30 países, até a fala enfática na cúpula do clima da ONU, há menos de um mês, Greta apontou o dedo para líderes mundiais que não fazem o dever de casa para amenizar o aquecimento global. “Vocês vêm até nós, os jovens, em busca de esperança. Como ousam?”, acusou.
Nesse percurso, incomodou muita gente. Nos últimos meses, Greta tem sido alvo de uma campanha de desmoralização, em uma antiga estratégia de retórica: se não consegue derrubar as críticas, desqualifique o crítico. Como a “Time” comprova, não tem surtido muito efeito. A ativista galvaniza-se como “o avatar de uma mudança geracional na cultura ainda mais ampla, refletida em todos os lugares, dos campi universitários de Hong Kong ao Congresso dos Estados Unidos”, aponta a revista.
Neste momento, Greta está em Madri para a COP 25, onde 200 países se reúnem com a principal agenda de ajustar pendências do Acordo de Paris, que começa a ser cobrado no ano que vem, entre elas os limites para a emissão de carbono. A sueca tornou-se o emblema de uma mudança, ainda que sutil, nas políticas ambientais.
Essa nova mecânica global influencia não apenas o ar que se respira e os produtos que se come, mas também as bases de acordos comerciais, porque questiona o modelo de desenvolvimento das nações. Basta ver o peso dado às queimadas na Amazônia neste ano, diante da possibilidade de costura de um pacto Mercosul - União Europeia.
Confrontado com o reconhecimento da revista norte-americana a Greta Thunberg, Bolsonaro voltou a desmerecê-la, ao reclamar que a imprensa dá destaque a “qualquer besteira” dita pela ativista. Reclamação no mínimo curiosa, vinda de um presidente que já causou vergonha e incidentes diplomáticos por suas declarações polêmicas, que nem vale a pena listar.
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Críticos acusam Greta de falar muito e fazer pouco. Mas o fato é que, por meio do discurso eloquente – virtude que não grassa nem mesmo entre líderes políticos –, o ativismo da sueca engatilhou um movimento global que levou sete milhões de pessoas às ruas, na maior manifestação climática da história. Palavras têm, sim, força. Influenciam comportamentos e mudanças, para o bem e para o mal. Que voz o Brasil quer ouvir?
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