História de Tia Beth mostra que corrida para educação ainda é muito injusta

Ela chegou como servente à escola em que hoje dá aula e teve que batalhar muito para atingir o objetivo, inclusive percorrer 90 km por dia de uma cidade a outra para estudar

Publicado em 14/10/2024 às 01h00
Elizabeth Tesch, a
Elizabeth Tesch, a "Tia Beth", era servente e virou professora da Coopesg Robusta, em São Gabriel da Palha. Crédito: Divulgação

Histórias de pessoas que batalharam para alcançar seus objetivos são sempre inspiradoras e merecem ser contadas, como a de Elizabeth de Souza Tesch, mais conhecida como tia Beth, de 45 anos, que superou as adversidades para se tornar professora em São Gabriel da Palha, no Noroeste do Espírito Santo.

Não foi fácil. Quando estava na idade de frequentar os ensinos fundamental e médio, ela morava no distrito de São Sebastião de Barra Seca, em São Gabriel. Ela tinha que pegar um ônibus velho e percorrer 18km entre a "roça" e  a cidade. Chegava muito tarde em casa, Quando chovia, não havia transporte. Na quinta-série, como tantos outros adolescentes deste país, abandonou os estudos para trabalhar como babá. Chegou a concluir o fundamental depois, conciliando com trabalho e maternidade.

Foi quando começou a trabalhar como servente na Escola Coopesg Robusta (Cooperativa Educacional de São Gabriel da Palha) que o seu destino começou a mudar, com a pressão de uma pedagoga da instituição para que ela terminasse o ensino médio. Mas ainda não foi fácil: após terminar o Ensino de Jovens e Adultos (EJA), ela entrou na faculdade em Nova Venécia, a quase 45 quilômetros de sua cidade. Percorria, portanto, 90 quilômetros para garantir a formação em Pedagogia que deu a ela uma nova profissão: professora.

Uma história cheia de obstáculos e com um final feliz, mas ainda um sonho distante para muitos brasileiros. Seja pela falta de oferta de boas instituições de ensino a uma distância digna de crianças, adolescentes e jovens, seja pela própria condição financeiras de famílias que obriga a entrada precoce no mercado de trabalho informal (e ilegal). Tia Beth é uma vencedora, que teve a sorte de encontrar pelo caminho uma instituição de ensino que viu nela um potencial.

As desigualdades sociais brasileiras não serão superadas se a educação transformadora não estiver sendo tratada como prioridade. Há muito a se avançar no ensino básico, em termos de qualidade, para manter os estudantes nas escolas até completarem o ciclo.  No ensino superior, por exemplo, é importante que se organize a oferta de ensino a distância, para garantir o acesso a aulas  nos mais distantes pontos do país. O desafio é garantir a qualidade.

A história de Tia Beth mostra que, para atingir os objetivos educacionais, os estudantes não partem do mesmo lugar.  Assim como ela, alguns têm sucesso na jornada, mas precisam encarar desafios que não deveriam existir. O direito à educação está na Constituição, mas não chega para todos. Reduzir os percalços de um sem número de jovens brasileiros deveria ser tratado como a prioridade das prioridades, para começar a reduzir as injustiças.

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