Em 2022, o Espírito Santo conseguiu voltar ao patamar de menos de mil homicídios atingido em 2019, mas não repetido nos dois anos seguintes. Com os dados do ano passado, o enfrentamento da criminalidade parecia então ter entrado novamente na rota decrescente na qual vinha embalado desde 2010 e interrompida somente em 2017 com a greve da PM (em 2009, foram registradas 2034 mortes, o ápice da violência no Estado).
É por essa razão que os números do primeiro semestre de 2023 trazem preocupação. Até as 16h do dia 30 de junho, foram registrados 508 assassinatos, sendo que no mesmo período de 2022 foram 474, o que representa um crescimento de 7% nas ocorrências.
Fechar mais um ano com menos de mil homicídios, de preferência com uma queda substancial, pode parecer um capricho estatístico. Não é. Para além do simbolismo numérico, é conseguir dar continuidade a uma evolução que, no fim das contas, significa que vidas estão sendo poupadas por meio de políticas públicas que comprovadamente dão resultados.
Na Grande Vitória, Vitória e Cariacica registraram aumento de casos neste primeiro semestre: a Capital foi de 30 mortes nos seis primeiros meses de 2022 para 37 no mesmo período deste ano. Cariacica teve 60 registros em 2023 e 55 em 2022. Já Serra e Vila Velha tiveram quedas: a primeira foi de 61 casos para 49, e a segunda foi de 89 para 70. Mesmo assim, Vila Velha é o município com mais mortes do Estado até agora.
A violência teve crescimento considerável também fora do eixo metropolitano: Linhares (35 contra 29), Aracruz (11 contra 10), Cachoeiro de Itapemirim (18 contra 16) e Colatina (17 contra 14).
De consolo, há 20 cidades capixabas que não registraram homicídios, como listou o colunista Leonel Ximenes.
A guerrilha urbana, materializada em episódios como o dos dias 24 e 25 de junho na região de Gurigica, em Vitória, carrega o peso de parte relevante das mortes violentas no Estado. É uma dinâmica que se repete em bairros com forte atuação do tráfico, com mudanças de foco esporádicas, ao sabor das disputas pelo mercado de entorpecentes. Grupos que se armam, se fortalecem e fazem questão de fazer demonstrações dessa força.
É um enfrentamento importante. É uma das premissas, inclusive, da Força-Tarefa de Segurança Pública (FTSP) da Polícia Federal, a qual as forças de segurança estaduais aderiram em março passado. Como já foi dito neste espaço, a cooperação entre as polícias pode fortalecer o combate à formação desses arsenais da criminalidade.
São seis meses pela frente para mudar essa trajetória de crescimento. A pacificação do Espírito Santo é uma meta civilizatória.
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