A pressão sobre o sistema de saúde capixaba atingiu seu ponto mais alto nesta segunda-feira (22), quando o Espírito Santo bateu o recorde de internações hospitalares desde o início da pandemia, no ano passado. Com a ocupação de 745 leitos de UTI e de 606 unidades de média complexidade, são 1.351 pacientes hospitalizados para o tratamento da Covid-19 na rede pública. Nesta terça-feira (23), serão abertas mais 20 vagas de UTI, chegando ao total de 816 destinadas exclusivamente para a doença. Com esse acréscimo, há 71 leitos disponíveis para novos pacientes, a partir de hoje.
Mesmo que exista a expectativa de que o Estado chegue ao total de 900 vagas exclusivas de UTI para a pandemia no começo de abril, não se pode relaxar. O Espírito Santo passa pelo ponto mais crítico da pandemia, com a velocidade da disseminação do coronavírus sendo maior do que a capacidade de abertura de novos leitos.
Até a segunda-feira (22),a disponibilidade era de 796 vagas intensivas. Com 93,59% desses leitos ocupados, vislumbra-se uma dramática contagem regressiva para o colapso. "Não haverá leitos para todos", alertou o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, sem dourar a pílula. Faz certo ao não amenizar o discurso diante da gravidade indiscutível da situação.
A quarentena, como se vê, não é um capricho: é a única forma de autoproteção e, sobretudo, de evitar que se precise recorrer ao atendimento quando a Covid-19 não se apresenta na sua forma mais leve. O risco de que casos graves se enfileirem nos hospitais não é uma hipótese distante, é uma realidade que pode ser evitada com a adoção de comportamentos adequados ao momento: distanciamento social acima de tudo, uso de máscaras e higiene. Só sair de casa em casos de necessidade pode evitar uma agonia na espera de vagas.
Onze hospitais do Estado já chegaram à ocupação máxima das UTIs. Não é um problema que envolve somente a Covid-19, pacientes de outras enfermidades também sofrem com a escassez de vagas. É temerário que no hospital que é referência no tratamento da Covid-19, o Jayme Santos Neves, na Serra, a ocupação para outras doenças tenha chegado a 100,33%. Até ontem, havia apenas sete leitos de UTI disponíveis para pacientes com Covid-19 por lá.
Para o leigo, a solução parece simples: que abram mais vagas! Mas o que tem sido testemunhado no país é também um colapso da infraestrutura hospitalar. Não basta somente instalar um leito: essa medida depende sobretudo da disponibilidade de profissionais especializados no tratamento intensivo. A demanda crescente provoca a escassez de médicos, enfermeiros e técnicos no mercado. E a capacitação exige um tempo que não existe a esta altura.
O país tem testemunhado também a falta de medicamentos. Há uma iminente crise de desabastecimento do chamado "kit intubação", que inclui anestésicos, sedativos e bloqueadores musculares, não só na rede pública, como em hospitais particulares e filantrópicos, resultado da alta demanda por serviços hospitalares, com a disseminação desenfreada da Covid neste mês de março.
No Espírito Santo, este é um mês que, ainda no dia 22, já chegou a 576 mortes, superando em 29 as vítimas registradas em fevereiro. Somente ontem, foram 53 perdas em território capixaba, o recorde em 24 horas de 2021.
Essa disseminação acelerada da terceira onda pode estar associada às variantes do coronavírus, mais contagiosas. O governo estadual informou que amostras testadas no Lacen, em março, registraram 15,22% de testes positivos para a variante SGTF, que pode estar associada à B117 observada no Reino Unido.
A ciência tenta resolver os enigmas dessas mutações, que parecem acometer os mais jovens. As circunstâncias deste momento mais crítico da crise sanitária exigem ainda mais cuidado. E sem meias palavras: se não houver um freio com esta quarentena, a tragédia que se seguirá será responsabilidade da omissão de cada um que não encarou com seriedade os riscos.
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