"Hostilizar" virou um verbo conjugado com frequência inadmissível no Brasil. Uma estratégia de posicionamento político nada civilizada, que enxerga no confronto inesperado e covarde uma forma de se impor ideologicamente. Principalmente com um celular na mão, muito estrago pode ser feito.
O caso mais recente envolveu o senador Marcos do Val, no calçadão de Camburi, em Vitória. Um homem não identificado persegue o parlamentar, dirigindo a ele xingamentos minuciosamente registrados pela sua câmera. O vídeo caiu nas redes sociais e viralizou, recebendo críticas negativas até mesmo de quem discorda dos posicionamentos políticos do senador.
Como a hostilização pública ficou associada ao bolsonarismo nos últimos anos, há também muitos comentários nas redes sociais que defendem que o senador, associado politicamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro, estaria provando do próprio veneno. Mas essa é uma justificativa perigosa, que coloca todos contra todos e transforma o espaço público em um ringue, no qual adversários políticos trocam insultos e agressões, que em alguns casos podem chegar a ser físicas. A divergência política se transforma em selvageria.
Recentemente, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, teve a família envolvida em um episódio de hostilização em Roma que está sendo investigado pela Polícia Federal. O seu colega de toga Luís Roberto Barroso passou por situação similar ao embarcar em um voo em Miami no ano passado. Na ocasião, afirmou que o episódio foi uma "mistura de ódio, ignorância, espírito antidemocrático e falta de educação". E complementou: "O Brasil adoeceu. Espero que consigamos curá-lo e que uma luz espiritual ilumine essas pessoas".
Flavio Dino, Ciro Gomes, Rodrigo Maia e Gleisi Hoffmann foram alguns dos nomes da política hostilizados nos últimos tempos. De posicionamentos políticos antagônicos, no ano passado Gilberto Gil foi insultado em um estádio durante a Copa do Catar, enquanto Regina Duarte foi vaiada na saída de um teatro em São Paulo.
Há uma linha tênue entre o que é liberdade de expressão e o que é violência. Críticas e opiniões desfavoráveis não são necessariamente crimes de calúnia, difamação ou injúria, mas é possível fazer essa distinção, sobretudo em um contexto de agressões e perseguição.
As ofensas proferidas ao senador Marcos do Val não foram mera crítica. Se há equívocos na conduta do senador, cujo nome está envolvido em tramas golpistas que estão sob investigação da Polícia Federal, esse é um caso que deve permanecer nas esferas policial e judicial. O assédio político e ideológico já afetou demais a democracia brasileira, é preciso recuperar a civilidade perdida.
LEIA MAIS EDITORIAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.