Com o mês de março tendo registrado um recorde de abertura de novas empresas no Espírito Santo, há duas constatações não excludentes. A primeira é a evidência de que há uma crise econômica em curso, quando se sabe que o desemprego empurra a força de trabalho para o empreendedorismo. Já a segunda aponta para uma reação que pode ser a propulsora da recuperação econômica, se bem organizada e estruturada para garantir um ambiente de negócios mais sadio.
Os dados da Junta Comercial do Espírito Santo mostram que 1.626 novos negócios foram oficializados no Estado em meio à piora da crise sanitária e ao decreto da quarentena, em 18 de março. É o segundo maior número da série histórica, iniciada em 2010. O único mês em que mais CNPJs foram criados no Estado desde então foi julho de 2019, com 1.638 novas empresas. Com o fechamento de 873 negócios em março, o saldo ficou em 753, o maior desde o início da pandemia.
O perfil das empresas abertas em março apontam para uma mudança de foco: restaurantes, lanchonetes e vestuário deixaram de ser a tendência, uma resposta clara às restrições de circulação impostas pela Covid-19, para dar lugar a negócios nas áreas de saúde, construção civil e e-commerce. Em um cenário pandêmico que não parece dar sinais de arrefecimento, não há espaço para aventureiros. A expansão dos negócios acaba sendo uma resposta às demandas surgidas com as mudanças comportamentais e as próprias exigências do momento.
Cabe aos governos, em todas as suas esferas, uma análise metódica dessa reação empresarial. Tanto na consolidação de estímulos a esses novos negócios, não só com medidas de facilitação de abertura e de simplificação tributária, mas com um acompanhamento próximo que garanta a longevidade deles, quanto no socorro aos setores mais afetados pela pandemia, sobretudo bares, restaurantes e eventos. É a oportunidade de reunir informação qualificada sobre o movimento desses novos mercados, para direcionar um crescimento organizado, mesmo sem as perspectivas otimistas do fim da crise sanitária.
Em nível nacional, o boletim Mapa de Empresas, divulgado em fevereiro pelo Ministério da Economia, mostrou que no Brasil há 14,4 milhões de micro e pequenas empresas em operação, sendo que 2,84 milhões foram criadas em 2020. Os Microempreendedores Individuais (MEIs) responderam por 77% desses novos negócios. Diante do total de empresas em atividade no país em janeiro de 2021, número que chegou a 20 milhões, fica evidente que os pequenos negócios dominam o setor empresarial no país. É preciso haver estímulo e zelo de forma estruturada, dada a importância deles na produção de riquezas.
Atividades mais relevantes na pandemia devem ser estimuladas, fazendo parte do planejamento da gestão pública. Não é oportunismo em seu sentido pejorativo, é a oportunidade de oferecer serviços e produtos que são também necessários para o enfrentamento da pandemia, em todos os níveis.
A economia não está dissociada do cotidiano, sobretudo neste momento tão singular. E, para que sirva a esse propósito, os empreendedores precisam encontrar um ambiente de negócios mais dinâmico, que estimule e não atrapalhe. Os números recordes do mês de março estão aí para provar que o brasileiro quer trabalhar e produzir, mas é importante encontrar as portas abertas.
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