Incentivo a novos negócios na pandemia deve ser estratégia governamental

Mudança de perfil  na abertura de novas empresas, com recorde registrado em março, mostra que atividades mais relevantes na pandemia devem ser estimuladas, fazendo parte do planejamento da gestão pública

Publicado em 10/04/2021 às 02h00
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Abertura de empresas na pandemia:  expansão dos negócios acaba sendo uma resposta às demandas surgidas com as mudanças comportamentais e as próprias exigências do momento. Crédito: Freepik

Com o mês de março tendo registrado um recorde de abertura de novas empresas no Espírito Santo, há duas constatações não excludentes. A primeira é a evidência de que há uma crise econômica em curso, quando se sabe que o desemprego empurra a força de trabalho para o empreendedorismo. Já a segunda aponta para uma reação que pode ser a propulsora da recuperação econômica, se bem organizada e estruturada para garantir um ambiente de negócios mais sadio.

Os dados da Junta Comercial do Espírito Santo mostram que 1.626 novos negócios foram oficializados no Estado em meio à piora da crise sanitária e ao decreto da quarentena, em 18 de março. É o segundo maior número da série histórica, iniciada em 2010. O único mês em que mais CNPJs foram criados no Estado desde então foi julho de 2019, com 1.638 novas empresas. Com o fechamento de 873 negócios em março, o saldo ficou em 753, o maior desde o início da pandemia.

O perfil das empresas abertas em março apontam para uma mudança de foco: restaurantes, lanchonetes e vestuário deixaram de ser a tendência, uma resposta clara às restrições de circulação impostas pela Covid-19, para dar lugar a negócios nas áreas de saúde, construção civil e e-commerce. Em um cenário pandêmico que não parece dar sinais de arrefecimento, não há espaço para aventureiros. A expansão dos negócios acaba sendo uma resposta às demandas surgidas com as mudanças comportamentais e as próprias exigências do momento.

Cabe aos governos, em todas as suas esferas, uma análise metódica dessa reação empresarial. Tanto na consolidação de estímulos a esses novos negócios, não só com medidas de facilitação de abertura e de simplificação tributária, mas com um acompanhamento próximo que garanta a  longevidade deles, quanto no socorro aos setores mais afetados pela pandemia, sobretudo bares, restaurantes e eventos. É a oportunidade de reunir informação qualificada sobre o movimento desses novos mercados, para direcionar um crescimento organizado, mesmo sem as perspectivas otimistas do fim da crise sanitária.

Em nível nacional, o boletim Mapa de Empresas, divulgado em fevereiro pelo Ministério da Economia, mostrou que no Brasil há 14,4 milhões de micro e pequenas empresas em operação, sendo que 2,84 milhões foram criadas em 2020. Os Microempreendedores Individuais (MEIs) responderam por 77% desses novos negócios. Diante do  total de empresas em atividade no país em janeiro de 2021, número que chegou a 20 milhões, fica evidente que os pequenos negócios dominam o setor empresarial no país. É preciso haver estímulo e zelo de forma estruturada, dada a importância deles na produção de riquezas.

Atividades mais relevantes na pandemia devem ser estimuladas, fazendo parte do planejamento da gestão pública. Não é oportunismo em seu sentido pejorativo, é a oportunidade de oferecer serviços e produtos que são também necessários para o enfrentamento da pandemia, em todos os níveis.

A economia não está dissociada do cotidiano, sobretudo neste momento tão singular. E, para que sirva a esse propósito, os empreendedores precisam encontrar um ambiente de negócios mais dinâmico, que estimule e não atrapalhe. Os números recordes do mês de março estão aí para provar que o brasileiro quer trabalhar e produzir, mas é importante encontrar as portas abertas.

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