Indústria da falsificação de documentos facilita a vida do criminoso

Esquema de produção de identidades e de CNH de alta qualidade desmantelado em Vila Velha expõe um mercado lucrativo que permite que bandidos circulem livremente com documentos falsos

Publicado em 28/06/2022 às 02h00
Identidade
Polícia vai investigar se papel usado em falsificação de identidades era original. Crédito: Júlia Afonso

Em filmes, séries e novelas, quando há um personagem foragido ou procurado pela polícia, a estratégia mais comum é falsificar algum documento para se manter incólume diante das autoridades. O lugar-comum da ficção se repete na vida real com frequência porque acaba dando certo para os criminosos. E alimenta uma indústria ilegal que, para produzir carteiras de identidade ou habilitação que passem com tranquilidade como verdadeiras durante uma abordagem, precisa de investimentos em  equipamentos e acesso à matéria-prima original.

Na semana passada, a Polícia Civil divulgou que, após uma investigação que durou seis meses, conseguiu desmontar um desses laboratórios de documentos falsos em Vila Velha, que contava  com computadores e impressoras profissionais avaliados em mais de R$ 20 mil. Um casal foi preso. As autoridades acreditam que a dupla fornecia seus serviços não somente para traficantes do Espírito Santo, mas também de Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Goiás e Paraná.

Embora a atuação da polícia tenha sido exemplar, ao desmantelar um grupo que facilita a vida de bandidos ao dar eles novos nomes e números de identificação (as carteiras de identidade e CNH falsificadas tinham as fotos dos criminosos com dados de pessoas inocentes, que podem ser prejudicadas), há dois pontos que precisam ser tratados como prioridade nas investigações.

O primeiro deles diz respeito à qualidade do produto. A perícia dos documentos falsos mostrou que, mesmo sob luz negra,  os selos de segurança ficavam visíveis, da mesma forma que nos originais. A falsificação beirava a perfeição, e é imprescindível que se saiba se há um mercado ilegal do papel usado oficialmente na confecção desses documentos no Brasil. É preciso seguir esse caminho para impedir que esse comércio continue prosperando.

O segundo ponto é sobre a publicidade dos serviços.  Um homem de 27 anos preso na operação gravava vídeos usando uma máscara que cobria o rosto e os publicava em grupos de WhatsApp, anunciando abertamente a venda de documentos falsos. Uma situação que mais uma vez mostra as redes sociais como uma terra sem lei, onde todo tipo de crime é divulgado sem o temor da lei.

É uma situação vexatória, que mostra a incapacidade do Estado brasileiro de exercer um controle mais rigoroso sobre seus próprios processos burocráticos. Se falsificadores são abastecidos com papel produzido oficialmente para a confecção de documentos ou se criminosos já são capazes de fabricar cópias quase perfeitas, a falha é igualmente grave. Significa que qualquer um pode ter uma vida paralela e desaparecer na multidão.

A verdade é que, em um país que rasteja tanto para tornar oficial um documento nacional de identificação, agora prometido para março de 2023, isso nunca foi difícil.  Uma pessoa pode simplesmente solicitar uma carteira de identidade em outro Estado para ter dois documentos com números distintos, o que é uma porta aberta para golpes. Oportunidades que, no Brasil, nunca faltam.

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