Seria um alento se a inflação de 2021, confirmada nesta terça-feira (11) pelo IBGE em 10,06%, fosse somente um índice a ser observado pelo retrovisor, sem impactos futuros. A realidade é mais dura, e mesmo que as projeções inflacionárias para 2022 sejam mais otimistas, analistas afirmam que a pressão no bolso da população, sobretudo o dos mais pobres, não deve se reduzir, diante de um cenário nacional que ainda será guiado por redução da renda e desemprego. E, como se observa atentamente, pelo comportamento da variante Ômicron, que tem provocado um crescimento avassalador de casos a ponto de já afetar a força de trabalho em diferentes setores econômicos.
Ao alcançar os dois dígitos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, ficou bem acima da meta estabelecida pelo Banco Central (3,75%). Assim, consolidou-se como a maior alta em seis anos, superando os 10,67% registrados em 2015, no governo Dilma.
Vitória foi a segunda capital do país com o maior IPCA: 11,5%. Só ficou atrás de Curitiba, com 12,73%.
E não é sem motivo o receio de que se estabeleça novamente no país uma cultura inflacionária que arranque o poder de compra dos assalariados e empurre ainda mais brasileiros para uma situação de pobreza.
Contudo, o aumento sistêmico dos preços é um fenômeno global desencadeado pela pandemia em 2020, com o desalinhamento de cadeias produtivas em todo o planeta. Mas a inflação registrada em 2021 coloca o Brasil em segundo lugar entre as 20 maiores economias do mundo que divulgaram seus índices até dezembro do ano passado, de acordo com levantamento da Nexgen Capital. A Turquia encabeça a lista.
Em 2021, 88% dos produtos investigados no Brasil tiveram elevação de preços, um crescimento considerável em relação aos 79% em 2020, de acordo com os dados do IBGE. Energia elétrica, combustíveis e alimentos foram os vilões da carestia no ano passado. E a melhora da pandemia no segundo semestre, com a reabertura econômica impulsionada pela vacinação em massa, provocou a recuperação da demanda e, consequentemente, pressionou a inflação.
O Banco Central em 2021 promoveu sucessivos aumentos na taxa básica de juros, medida macroeconômica para conter o aumento de preços ao tornar o crédito mais caro. Atualmente, a Selic está em 9,25% ao ano, o que provoca uma contrapartida negativa: a queda de investimentos capazes de gerar mais empregos e movimentar a economia. O cobertor é curto, sobretudo em um país ainda incapaz de reagir com agilidade diante da intempérie.
A inflação pode até ser um incômodo para os mais abastados, mas para os mais pobres é um transtorno cotidiano, pois são eles que precisam tomar decisões sobre o orçamento doméstico que, muitas vezes, não garante nem mesmo a comida na mesa. Por ser resultado de múltiplos fatores, muitos deles externos e conjunturais, a inflação não é um fenômeno simples de ser combatido. Mas é fato que, quando encontra um país já em frangalhos por sucessivas crises, tende a ser ainda mais cruel com aqueles que mais precisam.
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