A aguardada integração das linhas de ônibus de Vitória ao Sistema Transcol já tem data para acontecer, em 7 de março de 2021. O que significa que, em pouco mais de dois meses, um passo importante será dado no tão adiado compromisso de modernizar o transporte público na Região Metropolitana da Grande Vitória.
Mais do que permitir que o usuário circule por maiores distâncias desembolsando apenas uma passagem, algo que está na própria essência do Projeto Transcol, iniciado em 1989, a integração também precisa ter o propósito de racionalizar a oferta de linhas, reduzindo a sobreposição em determinadas vias e alimentando regiões menos guarnecidas. O mínimo que se espera é mais eficiência e mais conforto para quem depende diariamente do transporte público.
O sistema troncal implementado com a criação do Transcol foi considerado de vanguarda, ao substituir o sistema radial no qual todas as linhas obrigatoriamente seguiam para o Centro de Vitória. As críticas que se acumulam desde então ao Transcol dizem respeito mais à infraestrutura e à organização (terminais degradados, atrasos constantes, superlotação e falta de segurança) do que à forma de funcionamento desse sistema, conectado pelos terminais e suas linhas alimentadoras.
No transporte coletivo de Vitória, as reclamações também são persistentes. Viagens que atrasam ou simplesmente não acontecem, sem explicação; frotas reduzidas; pontos de ônibus inadequados, que não protegem nem da chuva nem do sol; coletivos em estado de conservação lastimável, superlotação em horários de pico e insegurança.
É nesse ponto que as autoridades municipais e estaduais devem estar atentas, para evitar a convergência dos problemas desses dois universos. A integração deve surtir como uma união de esforços para melhorar a mobilidade urbana, não para compartilhar os contratempos que se acumulam ao longo dos anos, sem soluções concretas.
Como a Capital não possui terminais desde a desativação do Dom Bosco, locais considerados de grande circulação de pessoas, por onde passam pelo menos uma linha de Vitória e há grande tráfego de linhas troncais (Transcol), serão transformados em pontos de integração. Oficialmente, até agora estão listados como terminais virtuais Shopping Vitória; Reta da Penha (em frente ao Boulevard da Praia); Portal do Príncipe (Rodoviária); Avenida Serafim Derenzi, em São Pedro; antigo terminal aquaviário do Dom Bosco; e praça de Eucalipto, em Maruípe. Assim que a integração for colocada em prática, será necessário dimensionar a demanda e, se preciso, fazer ajustes para garantir que o usuário não tenha mais prejuízos do que benefícios com a mudança.
A novidade, esperada há tantos anos, vai ocorrer em um momento difícil, ainda sob os efeitos da pandemia. A redução no número de passageiros de março a setembro fez com que as empresas do setor de transporte público tivessem prejuízos de mais de R$ 130 milhões no período. Foi justamente a crise sanitária que fez o governo do Estado mudar o cronograma: anteriormente, a previsão era de que a integração ocorresse no primeiro semestre de 2020.
A expectativa é que a integração seja benéfica também do ponto de vista econômico, com uma possível desoneração do sistema Transcol com o ingresso de mais usuários. Mas é preciso ter em mente que, se não houver melhoria na qualidade do serviço, isso não ocorrerá nem nos melhores cenários pós-pandêmicos. A integração, se trouxer mais transtornos do que conforto a quem pode escolher entre os ônibus e outros modais, não conseguirá mudar a sina do transporte público, com cada vez mais déficit de passageiros e, ironicamente, sempre apinhado de gente.
Este vídeo pode te interessar
LEIA MAIS EDITORIAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.