Em 1989, a implantação do Sistema Transcol deu um salto na mobilidade da Região Metropolitana de Vitória. Passageiros que eram obrigados a baldear-se de coletivo para coletivo para chegar ao seus destinos passaram a atravessar municípios pagando apenas uma passagem. Apesar de não ser a solução perfeita frente à complexidade do transporte coletivo nas grandes cidades, o sistema ganhou em eficiência e rapidez, sobretudo com a integração física propiciada pelos terminais rodoviários. Agora, mais de 30 anos depois, usuários de Vitória vão testar uma nova etapa, com a chamada integração temporal.
A partir desta segunda-feira (10), os 130 ônibus "verdinhos" que circulam nos bairros da Capital serão absorvidos pelo Transcol, e o passageiro que utilizava os dois serviços para se deslocar agora pagará apenas uma passagem para realizar todo o trajeto. A ampliação é mais um passo em direção à integração total do sistema de transporte coletivo na Grande Vitória, que começou há dois anos com a implantação da bilhetagem eletrônica. A Capital, que não possui terminal rodoviário, será o balão de ensaio da integração temporal, em que os usuários terão não uma estação, mas um limite de tempo para desembarcar de uma linha e embarcar em outra. Em Vila Velha, um imbróglio jurídico freia a mudança.
Antiga demanda dos passageiros, a mudança tocada pelo governo do Estado representa um avanço a ser comemorado, em um momento que sistemas de transporte urbano no mundo inteiro lutam para aliar qualidade e viabilidade econômica. O efeito mais imediato é o de baratear custos para a população que já utiliza os serviços, mas a mudança pode também incentivar moradores da Grande Vitória a abandonar os veículos particulares — mais numerosos e, consequentemente, mais poluentes — e adotar o transporte coletivo, com benefícios diretos ao meio ambiente, à redução de engarrafamentos e à saúde financeira dos sistemas. Essa migração tem sido um dos maiores desafios dos gestores públicos.
Para alcançar objetivo tão audacioso, no entanto, será preciso percorrer mais alguns quilômetros. Assim que a novidade foi anunciada, uma das preocupações mais evidentes dos passageiros foi com o curto espaço de tempo para realizar a baldeação. Usuários reclamam que, na troca de linhas que circulam dentro dos bairros para linhas troncais, que vão para outros municípios, o intervalo de tempo é de apenas 30 minutos. O prazo começa a ser contado assim que o usuário registra o pagamento da primeira passagem com o Cartão GV, o que acendeu alerta dos usuários.
Outra necessidade é realizar um amplo estudo de itinerários e conexões, para não deixar uma parcela da população à margem do benefício. Isso porque a integração conta com restrição não apenas de tempo, mas também de baldeações possíveis. Apenas à guisa de exemplo, a linha 214, que liga Goiabeiras a Bento Ferreira, passa pela importante Avenida Fernando Ferrari, servida por inúmeras linhas do Transcol. Os usuários, contudo, poderão fazer a troca de coletivo apenas com quatro linhas do serviço estadual (506, 508, 510 e 560). Nenhuma delas circula pela Fernando Ferrari, mas sim pela orla. Já a linha municipal 124 está interligada a apenas um itinerário do Transcol, a 514 (Terminal do Ibes X Terminal de Vila Velha).
Os terminais são vantajosos por eliminar rotas concorrentes, o que gera custos operacionais e ineficiência. Mas muitas vezes obrigam passageiros a percursos muito maiores do que o necessário para chegar a seus destinos. A integração temporal, portanto, precisa ter o condão de entregar mais capilaridade e rapidez nas viagens, liberando os usuários do transporte coletivo da concentração em estações.
Com menos de 10% dos usuários, a Capital deve servir como campo de testes para a integração total do sistema. Não somente o usuário precisará adaptar-se ao novo modelo, como também a Ceturb, que coordena o Transcol, deverá aprender com os passageiros, checar êxitos e corrigir gargalos, a exemplo do que foi feito com outros projetos, como o Mão na Roda e o Bike GV. Com a gestão metropolitana do transporte coletivo concluída, será mais fácil oferecer melhores trajetos e conexões aos usuários, além de menores custos e segurança regulatória às empresas. Abre-se espaço para parcerias público-privadas e a criação de novos e necessários modais, entre eles o aquaviário, aproveitando a geografia favorável da Grande Vitória. É um longo trajeto, mas o Espírito Santo está na direção certa.
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