É fácil se colocar no lugar dos moradores de um condomínio em Vitória que, na semana passada, tiveram a paz arrancada por um grupo de motoboys que invadiu o local à noite. Ninguém saiu ferido da ação da turba, o que não diminui a violência de um ataque em grupo, com invasão de propriedade privada e vandalismo deliberado. Sem falar no próprio medo de cada pessoa em cada apartamento, diante da imprevisibilidade dos atos daqueles invasores.
Uma ação covarde, independentemente das motivações. A informação de que um morador do prédio teria se envolvido em um confusão de trânsito dias antes com um motoboy não justifica essa reação desmedida. Seja lá o que tenha ocorrido, é um problema que cabe às esferas policiais e judiciais, sendo completamente despropositada - e criminosa - a justiça com as próprias mãos.
As cenas registradas pelos moradores nos transportam para tempos históricos nos quais a barbárie era normalizada. Mas, mesmo que tantos se esqueçam, é o Estado democrático de Direito que baliza a atuação da Justiça e garante tanto que a vítima tenha acesso a ela quanto que o suspeito tenha ampla defesa. Há um nome bem conhecido e defendido com unhas e dentes neste espaço: civilidade.
O que houve nessa ocorrência envolvendo o motoboy e o morador do prédio, portanto, é um problema a ser resolvido pelos dois, nos âmbitos institucionais. A reunião de uma turba para ameaçar uma pessoa e acabar aterrorizando um condomínio inteiro é inadmissível, o que se torna mais um elemento assustador da vida em sociedade nestes tempos em que, em tanta situações já registradas, as pessoas não parecem mais serem capazes de se entender. Mas é também nesses momentos que as instituições devem se impor. Com a lei e com a ordem.
As imagens da invasão em muitos aspectos lembram as reações violentas organizadas nas redes sociais, geralmente tendo como alvo algum suspeito de um crime ou alguém "cancelado" por algum comportamento considerado inadequado nos "tribunais da internet". É como se fosse a materialização dessa arena de batalha virtual, potencializada pelos riscos dos danos físicos e materiais da chamada vida real. O que se constata é que, nas ruas ou nas redes sociais, a barbárie se torna comum a ponto de ser encarada com naturalidade. Como sociedade, não podemos perder a nossa civilidade de vista.
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