Jovens mortos em Sooretama foram vítimas de uma guerra covarde

Não se pode aceitar com passividade que esse tipo de violência, já insuportável em bairros conflagrados da Grande Vitória, se alastre para o interior

Publicado em 05/09/2023 às 01h00
Sooretama
Corpos encontrados são dos três jovens desaparecidos em Sooretama. Crédito: Montagem | A Gazeta

Depois de 14 dias de angústia, a localização dos corpos de Kauã Loureiro, Carlos Henrique Trajanos, ambos de 15 anos, e Wellington Gomes, de 14 anos, em Sooretama, foi um final triste, mas lamentavelmente pouco surpreendente, de um enredo que se repete com uma frequência inconcebível, principalmente nos grandes centros urbanos: a disputa sangrenta de gangues pelo domínio do tráfico. O que assusta ainda mais, neste caso, é tamanha crueldade ter acontecido em uma cidade de pouco mais de 26 mil habitantes.

Os três adolescentes eram amigos de infância que não tinham envolvimento com a criminalidade. Frequentavam a mesma escola, onde eram queridos pelos colegas. Mas, por viverem em um bairro no qual o tráfico dá as cartas, acabaram mortos por cruzarem a fronteira imposta pelos criminosos rivais, do bairro vizinho. Vítimas de um tribunal com leis próprias, regido pela violência.

Houve empenho das autoridades de segurança para encontrar os adolescentes. A Polícia Civil conseguiu montar um quebra-cabeça após encontrar um carro com vestígios de sangue a partir de uma denúncia feita pelo Disque 181. A partir daí, seguiu os rastros de um motorista de aplicativo e de um adolescente, que havia se escondido em Jardim Carapina, na Serra, até chegar a Marcos Vinícius, vulgo Caíque, apontado como chefe do tráfico de drogas do bairro Areal, para onde os meninos se dirigiram na última vez em que foram vistos. Ligando os pontos, chegaram à área de plantio de eucalipto onde os corpos foram encontrados.

Mas é inevitável: com a confirmação de mais essa tragédia, fica o gosto amargo de mais um episódio no qual a  sociedade falhou miseravelmente. Porque é absurdo demais apenas imaginar que adolescentes sejam alvo de tanta atrocidade pelo simples fato de morarem em um bairro vizinho. Jovens que pagaram com a vida por uma rivalidade que nada tem a ver com eles, além da coincidência geográfica. 

Não se pode aceitar com passividade que esse tipo de violência, já insuportável em bairros conflagrados da Grande Vitória, se alastre para o interior. O tráfico de drogas é um negócio que se expande onde há demanda, e é papel do Estado impedir que essas franquias do crime vinguem nas cidades menores. 

A morte dos três adolescentes de Sooretama é mais um capítulo lamentável de violência no Espírito Santo. Não pode haver impunidade. Mas principalmente deve servir como motivação para o combate eficiente e racional da criminalidade. 

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