Tiros na praia. Pânico e correria entre os frequentadores. Adolescentes mortos ou feridos.
Na Ilha do Frade, em Vitória, neste domingo (14), um jovem de 15 anos foi assassinado em uma emboscada. Quatro adolescentes foram autuados. No dia seguinte, na Praia da Costa, em Vila Velha, um adolescente de 16 acabou baleado na perna. Ele próprio contou que um carro parou e uma pessoa atirou em sua direção.
Em primeiro plano, estão esses dois episódios violentos que envolvem adolescentes. Até o fechamento deste texto, não se tinha ainda notícia dos suspeitos dos disparos na Praia da Costa, mas no caso da Ilha do Frade, não há como não se consternar com o envolvimento de outros adolescentes, com idades entre 14 e 17 anos, em uma morte que, segundo o secretário Alexandre Ramalho, teria sido premeditada.
Adolescentes que aprendem desde cedo a solucionar os próprios conflitos com violência, na dinâmica que impera dentro do tráfico. Sem oportunidades, sem o estímulo de uma educação que indique os caminhos corretos, é o crime que seduz.
“Ele estava no Ifes. Pegou [os estudos] e abandonou. Não sei se estava usando droga, realmente não sei. Só sei o seguinte, esses meninos que apagaram ele [...] vão estar soltos daqui um dia”, desabafou Hezeron Campos, pai do adolescente. Como não se indignar com uma morte tão brutal, em uma ação que colocou em risco também uma multidão que aproveitava a praia? Tanto na Ilha do Frade quanto na Praia da Costa, poderia ter havido mais vítimas.
Em segundo plano está a própria praia, um ambiente no qual a convivência pacífica é quase uma utopia nesses dias quentes de verão. As areias lotadas nos balneários são um desafio para a segurança pública: na Grande Vitória, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) mobiliza uma força-tarefa não só para intimidar ações criminosas, mas também atuar nas demandas que não cessam nesta época do ano, do som alto aos eventos irregulares. As guardas municipais também se organizam nesse sentido.
O gerenciamento do verão é uma tarefa inglória, sobretudo pela falta de percepção das pessoas sobre limites. As liberdades de cada um não são absolutas, a convivência exige respeito, o que anda em falta. Como disse o colunista Francisco Aurelio Ribeiro em seu artigo desta segunda-feira (15), não basta somente educação no sentido de escolarização. "A palavra educação quer dizer 'conduzir-se para fora', o que implica saber enxergar o outro para bem conviver. E, nesse aspecto, brasileiro é muito mal-educado."
Policiamento nas praias é importante, mas não basta para conter a violência, em seus diferentes níveis. Estamos carentes demais de educação, tanto a formal, no sentido de fazer brilhar os olhos dos mais jovens com possibilidades a ponto de ofuscar o canto da sereia da criminalidade, quanto aquela que é a base da cidadania e da civilidade, para uma convivência sadia nesse ambiente tão democrático, mas frequentemente caótico.
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