Lama do Rio Doce: quase 9 anos depois ainda estamos aprendendo

Pesquisadores do  Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA), integrado por 37 instituições de ensino do país, incluindo a Ufes, constataram a presença de metais em todos os níveis de vida na foz do Rio Doce e na costa do ES e Sul da Bahia

Publicado em 13/09/2024 às 01h00
Tartaruga
Exemplo de tartaruga encontrada pelos pesquisadores. Crédito: PMBA/Fest

O caso das tartarugas é emblemático de como os estudos científicos são fundamentais para as questões ambientais. Foi justamente o fato de o Projeto Tamar realizar um trabalho há décadas em Regência, em Linhares, que permitiu aos pesquisadores do Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA) estabelecer a relação entre doenças encontradas nesses animais, como a conjuntivite, e a contaminação ocorrida no Rio Doce após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, em novembro de 2015.

A base sólida de dados acumulada durante todos esses anos pelo Projeto Tamar mostrou que essas anomalias eram inexistentes antes da catástrofe ambiental. 

Mas os impactos ambientais verificados pelos estudiosos  do PMBA — que reúne 37 instituições de ensino de todo o Brasil, entre públicas e particulares, incluindo a Ufes — não se restringiram às tartarugas. Em seu relatório anual, os pesquisadores constataram pela primeira vez a presença de metais que desceram com a lama de rejeitos da Samarco em todos os níveis de vida estudados, como peixes, aves, toninhas e até baleias, na foz do Rio Doce e na costa marinha do Espírito Santo e Sul da Bahia. O material foi publicado pelo g1 ES.

É um estudo amplo, importante por acompanhar os efeitos desses metais ao longo dos anos. No início, os impactos eram mensuráveis nos organismos da base da cadeia alimentar. Quase nove anos depois, eles chegaram também aos animais maiores. No caso dos peixes, o acompanhamento se faz importante por conta da atividade pesqueira, proibida desde 2016 na costa capixaba entre a região de Degredo e Barra do Riacho.

O conhecimento produzido por esses estudos deve ser levado em conta pelas autoridades, regionais e nacionais,  orientando a própria formulação de políticas públicas de proteção ao meio ambiente. Os impactos ambientais provocados por essa tragédia podem não estar mais tão visíveis na paisagem, mas as consequências para a biodiversidade continuam sendo monitoradas  de perto por estudiosos. A cada nova resposta, é mais conhecimento produzido, que ajuda a reforçar o aprendizado de que danos ambientais nunca são passageiros.

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