Lei Seca só dá resultado quando o motorista teme a blitz

No último fim de semana, operação em região boêmia de Vitória flagrou 101 condutores  suspeitos de embriaguez em apenas uma noite, o que mostra que a lei não está mais mudando o comportamento de quem dirige como antes

Publicado em 30/03/2023 às 01h00
Blitz
Blitz da PM flagra 101 suspeitos de dirigir embriagados na Praia do Canto. Crédito: Divulgação | BPTran

"Na blitz do último fim de semana, um motorista desceu do carro e se recusou a fazer o teste do bafômetro. Ao perceber que ele estava mancando, a capitão Melaine perguntou o que tinha acontecido e ouviu que o homem tinha sido atropelado por um motorista bêbado. Quando ele se tocou que estava, agora, na posição do condutor irresponsável, ele começou a chorar e pedir desculpas sem parar. Inconsolável."

Essa pequena crônica da vida real foi compilada entre os fatos inusitados vivenciados por policiais durante a realização de blitze no trânsito no Estado. Vale ler a reportagem, há episódios cômicos como o do motorista abordado sem as roupas ou o do condutor que simulou um infarto para escapar da abordagem. Mas o caso descrito acima — que traduz com precisão que, no trânsito, um dia é da caça, o outro é do caçador  — é um ensinamento. 

E, quando se tem conhecimento das loucuras que os motoristas fazem para não estar diante do bafômetro, fica mais evidente que a Lei Seca só atinge os seus objetivos quando há chances reais de punição. No trânsito, isso só é possível quando o poder público está nas ruas, exercendo seu papel fiscalizador. O que, convenhamos, é cada vez mais raro.

No último final de semana, uma blitz realizada na região da Praia do Canto, em Vitória, de sexta (24) para sábado (25), trouxe a lembrança dos velhos tempos, quando os finais de semana não passavam sem abordagens contra a associação de consumo de álcool e direção. Resultado: 300 veículos abordados e 101 flagrantes de suspeitas de embriaguez. 

A Lei Seca está prestes a completar 15 anos, em junho próximo. Não é exagero dizer que a legislação revolucionou os costumes: se antes beber e dirigir era aceito socialmente, com ela a atitude passou a ser reprovada de forma generalizada. Com o peso de punições que nos anos seguintes ficaram ainda mais rigorosas. Beber e dirigir é desde então um crime, mas o afrouxamento da repressão nas ruas vem contribuindo para destruir essa cultura. 

Para funcionar, a Lei Seca precisa se materializar nas ruas, com mais blitze sobretudo nos dias em que comprovadamente o consumo de álcool é mais elevado. É preciso, portanto, conhecer a rotina das cidades, para que as fiscalizações sejam mais eficientes. Não foi por acaso que a operação da semana passada tenha flagrado um número tão alto de infratores: as pessoas voltaram conduzir veículos sob o efeito de álcool porque deixaram de ter medo de blitz.

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