Em tantos países, mesmo em regiões geograficamente desfavoráveis, os avanços da engenharia proporcionam soluções rodoviárias para garantir a segurança nos deslocamentos entre uma origem e um destino qualquer. Pontes, túneis, elevados, viadutos, mergulhões, há intervenções de toda a sorte na construção de rodovias modernas. São projetos arrojados, evidentemente. As chamadas "grandes obras" de infraestrutura. Na BR 262, uma rodovia sucateada e perigosa há décadas, o que a sociedade anseia é simplesmente a sua duplicação, e mesmo assim a concessão da via se tornou uma quimera.
Dadas as informações, é muito possível que a suspensão do leilão, que já havia sido adiado três vezes no ano passado, tenha sido uma forma de evitar a repetição do vexame de 2013, quando só os grilos cantaram no certame. Fontes indicavam que as chances de atrair interessados neste novo leilão seriam maiores, com o aprimoramento das regras do edital, mas os altos custos da obra já assombravam essas expectativas. A BR 262 parece ser um pesadelo para os investidores, sobretudo o seu trecho no Espírito Santo, assim como seu traçado sinuoso que singra as montanhas até Minas Gerais é para os motoristas.
O investimento previsto, de R$ 7,37 bilhões, será reformulado dentro de um novo edital, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O Ministério da Infraestrutura afirma que espera viabilizar a obra com a equalização dos interesses sociais, relacionados aos valores tarifários, e dos anseios dos investidores. Isso porque as obras são consideradas complexas pelos seus aspectos técnicos. A concessão da BR 262 será realizada em conjunto com a BR 381, em Minas Gerais. O projeto abrange mais de 670 quilômetros de pistas, com a previsão de 402 quilômetros duplicados e 360 quilômetros de faixas adicionais e vias marginais, além de 40 passarelas e o contorno de Manhuaçu (MG).
Não bastasse a complexidade da obra e das próprias incertezas regulatórias, a situação econômica brasileira também ajuda a afugentar os investidores. O aumento desenfreado da Selic para frear a inflação, desde o lançamento do edital, é um fator de repulsa. O que leva a uma consideração óbvia: enquanto o país não conseguir se reerguer economicamente, com as reformas que modernizem o Estado e recuperem sua credibilidade, atrair investimentos, sobretudo em longo prazo, continuará sendo uma batalha inglória.
A BR 262, por ser o principal eixo de conexão do Estado com o Centro-Oeste, deve ser modernizada para aumentar a competitividade da economia capixaba no escoamento da produção e se tornar mais segura para todos que trafegam por ela. Alternativas, até mesmo de mudanças de traçado, não podem ser desestimuladas, mas as propostas para viabilizar a obra precisam ter conexão com a realidade, tanto nos aspectos econômicos quanto nos jurídicos.
Ironicamente, para superar um gargalo histórico de infraestrutura, o governo federal terá antes de superar um gargalo contratual. Espera-se que o aprimoramento do edital seja vantajoso para a sociedade, que anseia por uma nova BR 262, e para quem vai tocar a obra e administrar a rodovia. Mas não pode se arrastar mais. Afinal, o progresso econômico e a preservação de vidas não podem mais esperar.
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