Entende-se por lição aprendida, de modo rápido, todo o conhecimento absorvido em uma experiência, analisado, percebido em vivências e, especialmente, colocado em prática a partir disso. Com os casos recentes e frequentes de insegurança que estão sendo escancarados dia sim outro também entre os capixabas, reunimos aqui algumas dessas lições que aparentemente passaram da hora de serem de fato aprendidas e usadas para enfrentar a insegurança que aflige a todos.
- A afobação é inimiga da estratégia, que exige mais racionalidade em qualquer ação policial. Na fatídica perseguição empreendida pela Guarda Municipal de Vitória por cinco bairros de Vitória nesta segunda-feira (28), todos sabem quem estava do lado da lei. Isso não está em questão. Mas, quando os procedimentos necessários para garantir a segurança da população e das próprias forças policiais são deixados de lado, pessoas inocentes são colocadas em risco, como ocorreu na intensa troca de tiros na Avenida Leitão da Silva. O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e a Ordem do Advogados do Brasil - Seccional Espírito Santo (OAB-ES) reprovaram a ação e cobraram apuração das circunstâncias.
- A escolha é sempre pela vida. Quando a Guarda Municipal e a Polícia Militar se depararam com o trânsito na Leitão da Silva, a escolha deveria ter sido por abrir mão da perseguição e do confronto para, posteriormente, usar os recursos de inteligência policial para encontrar os fugitivos. Naquele momento, o pior dos cenários foi o que aconteceu: responder aos tiros em uma avenida repleta de veículos, elevando o risco de feridos e perdas humanas. Um dos suspeitos foi morto, dois foram baleados. E uma pessoa que nada tinha a ver com a situação também foi atingida. Foi somente a sorte que impediu uma tragédia maior.
- De novo, a estratégia. "A Polícia Militar poderia ter sido acionada. Mas a viatura da Polícia Militar que vai em apoio à Guarda não tinha conhecimento do que de fato estava acontecendo. Não houve essa comunicação, segundo os comandantes da Polícia Militar", afirmou o secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre Ramalho. A falta de comunicação entre as forças de segurança foi uma falha, sobretudo em uma perseguição que se deu por cinco bairros, e chegou a invadir o estacionamento de um supermercado, colocando quem estava pelo caminho em risco. Tiros foram disparados nesse trajeto. Com o acionamento da Polícia Militar, a ação ganharia em estratégia, com a possibilidade da realização de um cerco organizado aos suspeitos.
- Cerco inteligente. A Guarda de Vitória estava no encalço do Ônix Prata que tinha um histórico: havia sido usado em um homicídio na última sexta-feira (25) na Ilha do Príncipe. E, de acordo com interrogatório de um dos criminosos presos que consta na audiência de custódia, o objetivo do grupo nesta segunda-feira era roubar carros em Jardim da Penha. O cerco eletrônico de Vitória localizou o veículo e a partir daí deu-se início à perseguição. Esse mesmo cerco é uma "arma" tecnológica de grande valor para evitar perseguições desgastantes e arriscadas como a desta semana. Poderia ter sido usado de forma mais inteligente. Os criminosos, em momento mais estratégico, acabariam presos.
- Consequências da violência. O Ônix Prata usado pelos criminosos é o mesmo carro roubado em junho passado na Praia do Canto. Na época, as imagens das câmeras de videomonitoramento flagraram a vítima, que estava com a filha, reagindo ao assalto e sendo baleada pelo assaltante. O caminho que esse veículo fez até chegar às mãos dos criminosos que foram alvo da perseguição na Leitão da Silva mostra como nada é por acaso no mundo do crime. E surpreende que, mesmo com o cerco inteligente, esse carro tenha circulado pela cidade durante dois meses.
- Armamento pesado. Com o grupo, foram apreendidas armas como uma pistola israelense calibre 9mm, equipada com seletor de rajada e carregador alongado e a granada que foi detonada na avenida. Munições, colete balístico, carregadores, roupas camufladas... os criminosos estavam preparados para uma guerra. E esse é um dos aspectos mais preocupantes da segurança pública, o arsenal que está nas mãos dos criminosos. Armas que chegam por um mercado ilegal e que são determinantes para o fortalecimento das facções.
- Chamamento da sociedade. O terror na Leitão da Silva é mais um degrau na escalada da violência na Grande Vitória, e é mais do que urgente que a sociedade organizada se mobilize pela redução da violência. A Força-Tarefa de Segurança Pública reuniu as forças policiais para uma atuação mais qualificada contra a criminalidade, mas ainda não conseguiu mostrar a que veio. O Ministério Público se manifestou sobre a perseguição, assim como a OAB-ES, mas é preciso haver protagonismo, com mais voz e ação. Governo do Estado, deputados, prefeitos e vereadores também devem se unir e encabeçar essa causa. Sem dedos apontados, mas com soluções conjuntas e eficientes. Cenas aterrorizantes como a desta segunda não podem virar rotina.
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